Mostrando postagens com marcador Olavo Bilac. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Olavo Bilac. Mostrar todas as postagens

domingo, 22 de junho de 2014

Olavo Bilac - ‘Tarde’

Dualismo
Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.
Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:
E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.
- Olavo Bilac. ‘Tarde’. In: Antologia: Poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002. (Coleção a obra-prima de cada autor).

domingo, 6 de janeiro de 2013

Olavo Bilac - Poema dos Reis Magos

Olavo Bilac - Poema dos Reis Magos

Diz a Sagrada Escritura
Que, quando Jesus nasceu,
No céu, fulgurante e pura,
Uma estrela apareceu.

Estrela nova … Brilhava
Mais do que as outras; porém
Caminhava, caminhava
Para os lados de Belém.

Avistando-a, os três Reis Magos
Disseram: “Nasceu Jesus!”
Olharam-na com afagos,
Seguiram a sua luz.

E foram andando, andando,
Dia e noite a caminhar;
Viam a estrela brilhando,
sempre o caminho a indicar.

Ora, dos três caminhantes,
Dois eram brancos: o sol
Não lhes tisnara os semblantes
Tão claros como o arrebol

Era o terceiro somente
Escuro de fazer dó …
Os outros iam na frente;
Ele ia afastado e só.

Nascera assim negro, e tinha
A cor da noite na tez:
Por isso tão triste vinha …
Era o mais feio dos três!

Andaram. E, um belo dia,
Da jornada o fim chegou;
E, sobre uma estrebaria,
A estrela errante parou.

E os Magos viram que, ao fundo
Do presépio, vendo-os vir,
O Salvador deste mundo
Estava, lindo, a sorrir

Ajoelharam-se, rezaram
Humildes, postos no chão;
E ao Deus-Menino beijaram
A alava e pequenina mão.

E Jesus os contemplava
A todos com o mesmo amor,
Porque, olhando-os, não olhava
A diferença da cor …

Olavo Bilac, Poema dos Reis Magos In: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves: 1949, 17ª edição.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

In Extremis - Olavo Bilac

In Extremis - Olavo Bilac

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia 
Assim! de um sol assim! 
Tu, desgrenhada e fria, 
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados, 
E apertando nos teus os meus dedos gelados... 

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera 
Toda azul, no esplendor do fim da primavera! 
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento! 
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento 
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo... 

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo! 
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte, 
E arredar-me de ti, cada vez mais, a morte... 

Eu, com o frio a crescer no coração, — tão cheio 
De ti, até no horror do derradeiro anseio! 
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente, 
A boca que beijava a tua boca ardente, 
A boca que foi tua! 

E eu morrendo! e eu morrendo 
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo 
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, 
A delícia da vida! a delícia da vida!


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Florbela Espanca - Olavo Bilac

FLORBELA ESPANCA

Fui Essa que nas ruas esmolou
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mãos pálidas poisou...

Tanto poeta em versos me cantou!
Fiei o linho à porta dos casais...
Fui descobrir a Índia e nunca mais
Voltei! Fui essa nau que não voltou...

Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor do verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes...

Tudo em cinzentas brumas se dilui...
Ah, quem me dera ser Essas que eu fui,
As que me lembro de ter sido... dantes!... 


OLAVO BILAC

De qual de vós desceu para o exílio do mundo
A alma desta mulher, astros do céu profundo?
Dorme talvez agora... Alvíssimas, serenas,
Cruzam-se numa prece as suas mãos pequenas.
Para a respiração suavíssima lhe ouvir,
A noite se debruça... E, a oscilar e a fulgir,
Brande o gládio de luz, que a escuridão recorta,
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta.
Versos! podeis voar em torno desse leito,
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito,
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar...
Dorme... Rimas febris, podeis febris voar...
Como ela, num livor de névoas misteriosas,
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas;
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos,
Vêm dormir nos dois céus dos seus olhos divinos...
Dorme... Estrelas, velai, inundando-a de luz!
Caravana, que Deus pelo espaço conduz!
Todo o vosso dano nesta pequena alcova
Sobre ela, como um nimbo esplêndido, se mova:
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça
Como a da Virgem Mie repouse e resplandeça!


sábado, 27 de agosto de 2011

OLAVO BILAC- Soneto XIII

OLAVO BILAC - Soneto XIII

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto,
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
_________________________________

OLAVO BILAC - Sonnet XIII
(From the Milky Way series)


"Oh come now (you will say) hear stars! It's clear
You've lost your mind!" I´ll tell you anyway,
I often wake to hear what they will say,
I push my windows open, pale with tear ...

And we converse throughout the night, while high
The Milky Way, like outspread robes, appears
To shine. At dawn, with longing and in tears,
I seek them still throughout the empty sky.

And next you'll say: "My poor, demented friend
What do you say to them? And tell me, pray,
What do they say when they your ears do bend?

I´m tell you: "You must love to comprehend!
For only lie who loves has ears which may
Perceive and grasp the messages stars send."



tradução Ricardo Apparicio

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um beijo - Olavo Bilac

Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante, 
na perpétua saudade de um minuto...

Olavo Bilac

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Olavo Bilac - Ao coração que sofre

Olavo Bilac - Ao coração que sofre


Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
Ao coração que sofre

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
Olavo Bilac

Olavo Bilac - As ondas

AS ONDAS

Entre as trêmulas mornas ardentias,
A noite no alto mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:

Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.

Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabatro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;
E bocas verdes, cheias de gemidos,

Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva...
(Tarde, 1919.
)

domingo, 31 de julho de 2011

Velhas árvores - Olavo Bilac

Old Trees 
Look at these old trees, more lovely these 
Than younger trees, more friendly too by far:
More beautiful the older that they are, 
Victorious over age and stormy seas ... 
The beasts, the insects, man, under the tree 
Have lived, and been from toil and hunger free; 
And in its higher branches safe and sound 
Incessant songs of birds and love are found. 
Our youth now lost, my friend, let's not bemoan! 
Let's laugh as we grow old! let us grow old 
As do the trees, so nobly, strong and bold: 
Enjoy the glorious kindness we have sown, 
And succor in our branches those who seek, 
The shade and comfort offered to the weak! 

Poemas translated by Frederic G. Heather Marie Williams

Velhas árvores 
Olha estas velhas árvores, mais belas 
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas, 
Vencedoras da idade e das procelas ... 
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas 
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas 
E os amores das aves tagarelas. 
Não choremos, amigo, a mocidade! 
Envelheçamos rindo! envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem: 
Na glória da alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem
!



OLAVO BILAC - Soneto XIII

OLAVO BILAC- Soneto XIII

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto,
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Profissão de fé - Olavo Bilac

Profissão de fé

Olavo Bilac

..............................
........…
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
De ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

[...]
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PROFISSAO de FE' 1/2 - Olavo Bilac

PROFISSAO de FE' 1/2


Olavo Bilac


Não quero o Zeus Capitolino,
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino 
Com o camartelo.

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

Porque o escrever — tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!













PROFISSAO de FE' 2/2 Olavo Bilac

PROFISSAO de FE' 2/2

Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime 
Do sacrilégio.

E, se morreres porventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!

Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.

Celebrarei o teu ofício
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,
Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!