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sábado, 29 de outubro de 2011

Fernando Pessoa/Alberto Caieiro - O RIO DE MINHA ALDEIA

O RIO DE MINHA ALDEIA

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Fernando Pessoa/Alberto Caieiro




sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Provocações - O Essencial é Saber Ver (Alberto Caeiro) - Abujamra

Provocações - O Essencial é Saber Ver (Alberto Caeiro) - Abujamra


http://www.youtube.com/watch?v=6sLN8Ez5q6E



O essencial é saber ver, 
mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida,
isso exige um estudo profundo,
aprendizagem de desaprender. 
Eu procuro despir-me do que aprendi, 
eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram 
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, 
desembrulhar-me 
e ser eu.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fernando Pessoa - Alberto Caeiro - O mistério das cousas

Fernando Pessoa
( Alberto Caeiro )
O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.