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terça-feira, 4 de março de 2014

Hilda Hilst

"A vida foi isso de sentir o corpo, contorno, vísceras, respirar, ver, mas nunca compreender. Por isso é que me recusava muitas vezes. queria o fio lá de cima, o tenso que o OUTRO segura, o OUTRO, entendes?"

- Hilda Hilst, in "a obscena senhora D".

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Hilda Hilst - Da noite, VIII

Costuro o infinito sobre o peito.
E no entanto sou água fugidia e amarga.
e sou crível e antiga como aquilo que vês:
Pedras, frontões no Todo inamovível.
Terrena, me adivinho montanha algumas vezes.
Recente, inumana, inexprimível
Costuro o infinito sobre o peito
Como aqueles que amam.

Hilda Hilst - Da noite, VIII

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Hilda Hilst

Estou sozinha se penso que tu existes.

Não tenho dados de ti, nem tenho tua vizinhança.

E igualmente sozinha se tu não existes.

De que me adiantam

Poemas ou narrativas buscando

Aquilo, que se não é, não existe

Ou se existe, então se esconde

Em sumidouros e cimos, nomenclaturas

Naquelas não evidências

Da matemática pura? É preciso conhecer

Com precisão para amar? Não te conheço.

Só sei que me desmereço se não sangro.

Só sei que fico afastada

De uns fios de conhecimento, se não tento.

Estou sozinha, meu Deus, se te penso. 


Hilda Hilst

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Hilda Hilst

Hilda Hilst 

Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia 
Quando cruzares o Amanhã, a luz, 
 Porque de barro e comigo. 
Isenta de traçado sem nenhuma bagagem 
Hei de levar apenas a vertigem e a fé: 
Para teu corpo de luz,dois fardos breves. 
Deixarei palavras e cantigas. 
E movediças 
Embaçadas vias de Ilusão. 
Não cantei cotidianos. 
Só cantei a ti Pássaro-Poesia 
E a paisagem-limite: o fosso, 
A convulsão do Homem. 
Carrega-me contigo. 
No Amanhã.

2013. Fotografia © Leonora Fink



terça-feira, 22 de maio de 2012

Hilda Hilst

Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?

(Da Noite - 1992)
Hilda Hilst

(Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)




terça-feira, 6 de março de 2012

Hilda Hilst - Fragmento

‎Enchei-vos de paciência. Aos poucos a coisa chega ao fim. O caleidoscópio gira sozinho e se espio nem sei do que se trata. Algures estará o espírito. Move-se ubíquo. Move-se múltiplo, melhor, porque o dois sempre cerceia, estou aqui estou lá, e isso não é verdade, estou aqui lá acolá muito perto muito longe dentro. Fora também. Enfim nada é fácil, creia-me, até o oco tem seus mistérios.


Hilda Hilst

(Kadosh) (Citação retirada do livro “Uma superfície de gelo ancorada no riso”, lançamento da Globo Livros)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Hilda Hilst - Poema

E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jugo novo



Hilda Hilst

Hilda Hilst - Cadernos de Literatura - Instituto Moreira Salles

Se você compreende a real condição do homem, isso talvez te leve à morte ou  à  loucura . Foi isso que compreendi, portanto não estou mais certa das propostas do possível conhecimento de si mesmo. Dái então talvez erigirmos diante de nós mesmos um escudo, a viseira, a couraça : talvez seja a possibilidade de continuarmos vivos, ao lado da ilusão mais tentadora - o amor.

Hilda Hilst - Cadernos de Literatura - Instituto Moreira Salles 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Hilda Hilst

Não é isso ....Afastada de mim
A intenção de te causar tormento
É essa fome de ti , esse amor infinito 
Palavra que se faz lava na garganta. 



Hilda Hilst

domingo, 11 de dezembro de 2011

Hilda Hilst - Poema

Hei de fazer-me triste à imagem tua:
Hei de ser pedra e areia, soberba e solidão
Montanha crua


Hilda Hilst


Kusadasi, Turquia - Fotografia Leonora Fink


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Hilda Hilst - Poema

Se for possível, manda-me dizer
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.

HILDA HILST

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Canção VI - por Ná Ozetti

Canção VI - poema de Hilda Hilst musicado por Zeca Baleiro
(Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé)


Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.

(Poema de Hilda Hilst, musicado por Zeca Baleiro)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A fome do primeiro grito - Hilda Hilst

A fome do primeiro grito

Hilda Hilst

XII

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

De Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Hilda Hilst - Poema

HILDA HILST

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
- "Júbilo, memória, noviciado da paixão" - Página 17, de Hilda Hilst,

Hilda de Almeida Prado Hilst (Jaú, 21 de abril, 1930 — Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poetisa, escritora e dramaturga brasileira

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poemas aos Homens do nosso tempo - Hilda Hilst

Poemas aos Homens do nosso tempo - Hilda Hilst


Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.



Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - IX)
[in Poesia: 1959-1979/ Hilda hilst. - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]









Fotografia Leonora Fink - Juquehy, São Sebastião, SP



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Hilda Hilst

A vida é crua. Faminta como um bico de corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima, olho-d’agua, bebida. A vida é líquida.


Hilda Hilst



















domingo, 26 de dezembro de 2010

Hilda Hilst - Poema

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite 
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Hilda Hilst, Júbilo Memória Noviciado da Paixão, 1974

II

Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa rapacidade
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.

VIII

Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua

Aquietá-los.

Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.

Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.

Hilda Hilst, Júbilo Memória Noviciado da Paixão, 1974


































segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dez chamamentos ao amigo - Hilda Hilst

Dez chamamentos ao amigo


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)


[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.] 













Hilda Hilst

Lobos? São muitos.

Mas tu podes ainda

A palavra na língua

Aquietá-los.

Mortos? O mundo.

Mas podes acordá-lo

Sortilégio de vida

Na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.

Mas se farão milhares

Se à lucidez dos poucos

Te juntares.

Raros? Teus preclaros amigos.

E tu mesmo, raro.

Se nas coisas que digo

Acreditares.

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - VIII)