Mostrando postagens com marcador Thiago de Mello. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Thiago de Mello. Mostrar todas as postagens

sábado, 28 de junho de 2014

Thiago de Mello, em "Faz escuro mas eu canto"

Água de remanso
Cismo o sereno silêncio:
sou: estou humanamente
em paz comigo: ternura.
Paz que dói, de tanta.
Mas orvalho. Em seu bojo
estou e vou, como sou.
Ternura: maneira funda,
cristalina do meu ser.
Água de remanso, mansa
brisa, luz de amanhecer.
Nunca é a mágoa mordendo.
Jamais a turva esquivança,
o apego ao cinzento, ao úmido,
a concha que aquece na alma
uma brasa de malogro.
É ter o gosto da vida,
amar o festivo, o claro,
é achar doçura nos lances
mais triviais de cada dia.
Pode também ser tristeza:
tranquilo na solidão macia.
Apaziguado comigo,
meu ser me sabe: e me finca
no fulcro vivo da vida.
Sou: estou e canto.
Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto", 17ª ed., São Paulo: Bertrand Brasil, 1999.