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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Amor à primeira vista - Wislawa Szymborska

Amor à primeira vista

Ambos estão certos
de que uma paixão súbita os uniu.
É bela essa certeza,
mas ainda é mais bela a incerteza.

Acham que por não terem se encontrado antes
nunca havia passado nada entre eles.
Mas e as ruas, escadas, corredores
nos quais há muito talvez se tenham cruzado?

Queria lhes perguntar
se não se lembram -
numa porta giratória talvez
algum dia face a face?
um desculpe na multidão?
uma voz que diz "é engano" ao telefone?
- mas conheço a reposta.
Não, não se lembram.

Muito os espantaria saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.

Ainda não de todo preparado
para se transformar no seu destino
juntava-os e os separava
barrava-lhes o caminho
e abafando o riso
sumia de cena.

Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Quem sabe três anos atrás
ou terça feira passada
uma certa folhinha voou
de um ombro ao outro?
Algo foi perdido e recolhido.
Quem sabe se não foi uma bola
nos arbustos da infância?

Houve maçanetas e campainhas
onde a seu tempo
um toque se sobrepunha ao outro.
As malas lado a lado no bagageiro.
Quem sabe se numa noite o mesmo sonho
que logo ao despertar se esvaneceu.

Porque afinal cada começo
é só a continuação
e o livro dos eventos
está sempre aberto no meio.

Wislawa Szymborska

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Elogio dos Sonhos - Wislawa Szymborska

Elogio dos Sonhos - Wislawa Szymborska

Nos sonhos
eu pinto como Vereer van Delft.

Falo grego fluente
e não só com os vivos.

Dirijo um carro
que me obedece.

Tenho talento,
escrevo grandes poemas.

Escuto vozes
não menos que os mais veneráveis santos.

Vocês se espantariam
com minha performance ao piano.

Flutuo no ar como se deve
isto é, sozinha.

Ao cair do telhado
desço de manso na relva.

Respiro sem problema
debaixo d'água.

Não reclamo:
consegui descobrir a Atlântida.

Fico feliz de sempre poder acordar
pouco antes de morrer.

Assim que começa a guerra
me viro do melhor lado.

Sou, mas não tenho que ser
filha de minha época.

Faz alguns anos
vi dois sóis.

E anteontem um pinguim.
Com toda a clareza.




Jabuticabeira. 2011. Fotografia © Leonora Fink











sexta-feira, 6 de julho de 2012

Wislawa Szymborska - As Três Palavras Mais Estranhas - A Abujamra

Provocações - As Três Palavras Mais Estranhas - Wislawa Szymborska - Abujamra 


http://www.youtube.com/watch?v=g_UelHr4Cjg&feature=fvwrel

Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe no que ainda não existe.

Autora - Wislawa Szymborska 

sábado, 31 de dezembro de 2011

Wislawa Szymborska

Porque cada início
é só continuação,
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio.

Wislawa Szymborska