sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cantiga de Acordar - Chico Buarque

Cantiga de Acordar

Chico Buarque

Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Era como um trem
Que anda sem passar
Era um tempo sem
Lugar
Mas
Foi um sonho bom
De sonhar porque
Me sonhava com
Você
E então seu canto veio me acordar
Era uma ilusão
No interior
De uma outra ilusão
Maior
Mas
Você foi pro sol
Noite me envolveu
Num silêncio igual
Ao seu
E então seu canto veio me acordar
Tudo é uma ilusão
Os que estão aqui
Esses não estão
Em si
Do universo, o além
Faunos ou mortais
Vão restar mais nem
Sinais

Tudo o que se vê
É o sonho de algum
Pobre sonhador
Todas as estrelas
Todas as misérias
Todos os desejos
E a canção do meu amor
Tudo o que se viu tudo o que se foi

Última ilusão
Amanhece já
Vai-se abrir o chão
Quiçá
A ilusão se esvai
É uma cena só
E a cortina cai
Sem dó
Vai cessar o som
A sessão já foi
Despertar é bom
Mas dói
Pedras vão rolar
Choram serviçais
Vão se espatifar
Vitrais
Tomba o refletor
Ardem camarins
Cai no bastidor
A atriz
Descarrila o trem
O pilar cedeu
Vai morrer meu bem
E eu

Num jardim fugaz
De espirais sem fim
Eu corria atrás
De mim
O homem se distrai
Dorme em boa fé
Sua sombra sai
A pé

Mas
Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés

Madeira. 2009. Fotografia © Leonora Fink

uma fotografia é um segredo que nos fala de um segredo; quanto mais parece explícita, menos somos esclarecidos. 

Diane Arbus

 2013. Fotografia © Leonora Fink

O bandarra - Manoel de Barros

O bandarra

Ele só andava por lugares pobres
E era ainda mais pobre
Do que os lugares pobres por onde andava.
Falou de começo: Quem abandona a natureza entra a
verme.
Aves nutriam por ele deslumbramentos de criança.
Ele sabia o sotaque das lesmas
E tinha um modo de árvore pregado no olhar.
O homem usava um dólmã de lã sujo de areia e cuspe
de aves.
Mas ele nem tô aí para os estercos.
Era desorgulhoso.
Para ele a pureza do cisco dava alarme.
E só pelo olfato esse homem descobria as cores do
amanhecer.

Manoel de Barros

quinta-feira, 30 de maio de 2013

(SITTIN' ON) THE DOCK OF THE BAY

(SITTIN' ON) THE DOCK OF THE BAY

http://www.youtube.com/watch?v=UCmUhYSr-e4

- written by Otis Redding and Steve Cropper
- lyrics as recorded by Otis Redding December 7, 1967, just three
days before his death in a plane crash outside Madison, Wisconsin
- #1 for 4 weeks in 1968

Sittin' in the mornin' sun
I'll be sittin' when the evenin' come
Watching the ships roll in
And then I watch 'em roll away again, yeah

I'm sittin' on the dock of the bay
Watching the tide roll away
Ooo, I'm just sittin' on the dock of the bay
Wastin' time

I left my home in Georgia
Headed for the 'Frisco bay
'Cause I've had nothing to live for
And look like nothin's gonna come my way

So I'm just gonna sit on the dock of the bay
Watching the tide roll away
Ooo, I'm sittin' on the dock of the bay
Wastin' time

Look like nothing's gonna change
Everything still remains the same
I can't do what ten people tell me to do
So I guess I'll remain the same, yes

Sittin' here resting my bones
And this loneliness won't leave me alone
It's two thousand miles I roamed
Just to make this dock my home

Now, I'm just gonna sit at the dock of the bay
Watching the tide roll away
Oooo-wee, sittin' on the dock of the bay
Wastin' time

Três Cantos - Foi por ela

Três Cantos - Foi por ela

Foi por ela que amanhã me vou embora
ontem mesmo hoje e sempre
ainda agora sempre o mesmo
em frente ao mar também me cansa
diz Madrid, Paris, Bruxelas
quem me alcança em Lisboa
fica o Tejo a ver navios
dos rossios de guitarras à janela
foi por ela que eu já danço
a valsa em pontas que eu passei das minhas contas
foi por ela

 Foi por ela que eu me enfeito de agasalhos
em vez daquela manga curta colorida
se vais sair minha nação dos cabeçalhos
ainda a tiritar de frio acometida
mas o calor que era dantes
também farta e esvai-se o tropical sentido na lapela
foi por ela que eu vesti fato e gravata
que o sol até nem me faz falta
foi por ela

 Foi por ela que eu passo coisas graves
e passei passando as passas dos Algarves
com tanto santo milagreiro todo o ano
foi por milagre que eu até nasci profano
 e venho assim como um tritão subindo os rios
que dão forma como um Deus ao rosto dela
foi por ela que eu deixei de ser quem era
sem saber o que me espera foi por ela


terça-feira, 28 de maio de 2013

SE EU PUDESSE VIVER NOVAMENTE - JORGE LUIS BORGES

SE EU PUDESSE VIVER NOVAMENTE 
de JORGE LUIS BORGES 

Se eu pudesse viver novamente a minha vida;
na próxima, não temeria cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tonto do que fui, e de pronto
tomaria muito poucas coisas com seriedade.
Seria até menos higiênico,
correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios,
iria a mais lugares onde nunca fui,
comeria mais sorvetes e menos coisas amargas,
teria mais problemas reais, e menos imaginários.
Eu fui dessas pessoas que vivi
sensata e prolificamente cada minuto e sua vida,
claro que tive momentos de alegria.

Porém, se pudesse voltar atrás,
trataria de ter somente bons momentos.

Se vocês não sabem, é disso que é feita a vida,
somente de momentos, não percamos tempo.

Eu era desses que não iam a nenhuma parte,
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e uma bengala,
se eu pudesse voltar a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar
descalço no início da primavera e seguiria
assim até o final do outono.

Andaria mais pelas ruazinhas,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria mais com as crianças,
se eu tivesse outra vida pela frente.
Porém vejam, tenho oitenta e cinco anos
e sei que estou morrendo.



Memória - Carlos Drummond de Andrade

Memória
Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.



2013. Fotografia © Leonora Fink

Ella Fitzgerald - Night and Day

Ella Fitzgerald - Night and Day 


http://www.youtube.com/watch?v=PEM_63_P0CY


Night And Day

Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall
Like the drip drip drip of the raindrops
When the summer shower is through
So a voice within me keeps repeating you, you, you
Night and day, you are the one
Only you beneath the moon and under the sun
Whether near to me, or far
It's no matter darling where you are
I think of you
Night and day, day and night, why is it so
That this longing for you follows wherever I go
In the roaring traffic's boom
In the silence of my lonely room
I think of you
Night and day, night and day,
Under the hide of me
There's an oh such a hungry yearning burning inside of me
And this torment won't be through
Till you let me spend my life making love to you
Day and night, night and day
Night and day
Under the hide of me
There's an oh such a hungry yearning burning inside of me
And this torment won't be through
Till you let me spend my life making love to you
Day and night
Night and day.

Tenerife. 2009. Fotografia © Leonora Fink 




Emergência - Mario Quintana

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.


Mario Quintana



 Ilha Bela. 2013. Fotografia © Leonora Fink

Te Amo - Pablo Neruda

Te Amo - Pablo Neruda


http://www.youtube.com/watch?v=6ARalNn0OLM&feature=youtu.be


Te amo

te amo de una manera inexplicable, 

de una forma inconfesable, 

de un modo contradictorio. 


Te amo 

con mis estados de ánimo que son muchos, 

y cambian de humor continuamente. 

por lo que ya sabes, 

el tiempo, la vida, la muerte. 


Te amo... 

con el mundo que no entiendo, 

con la gente que no comprende, 

con la ambivalencia de mi alma, 

con la incoherencia de mis actos, 

con la fatalidad del destino, 

con la conspiración del deseo, 

con la ambigüedad de los hechos. 


Aún cuando te digo que no te amo, te amo, 

hasta cuando te engaño, no te engaño, 

en el fondo, llevo a cabo un plan, 

para amarte mejor. 


Te amo... 

sin reflexionar, inconscientemente, 

irresponsablemente, espontáneamente, 

involuntariamente, por instinto, 

por impulso, irracionalmente. 


En efecto no tengo argumentos lógicos, 

ni siquiera improvisados 

para fundamentar este amor que siento por ti, 

que surgió misteriosamente de la nada, 

que no ha resuelto mágicamente nada, 

y que milagrosamente, de a poco, con poco y nada 

ha mejorado lo peor de mí. 


Te amo, 

te amo con un cuerpo que no piensa, 

con un corazón que no razona, 

con una cabeza que no coordina. 


Te amo 

incomprensiblemente, 

sin preguntarme por qué te amo, 

sin importarme por qué te amo, 

sin cuestionarme por qué te amo. 


Te amo 

sencillamente porque te amo, 

yo mismo no sé por qué te amo.



domingo, 26 de maio de 2013

Forse Mi Trovo - Ligabue

Forse Mi Trovo - Ligabue


http://www.youtube.com/watch?v=4PiTqcA938A&feature=share

Mi cerco nei tuoi occhi
Perchè alla fine è un gioco di specchi
Perchè alla fine è un gioco
Che non mi va di perdere
Mi cerco sulla tua pelle
E sai così bene che sei così bella
E allora mi cerco più a valle
Sotto un respiro tiepido
Forse mi trovo
Forse non sono nemmeno lontano da me
Forse mi trovo
E mi trovo bene
Forse ti trovo
Per non cercarmi mai più
Mai più
Pensami alle dieci
Pensami forte con la tua mano
Anche se sto lontano
Cercati un poco pure tu
Mi cerco mentre dormi
Fra l'aria che muovi e quella che fermi
Un metro fuori dai sogni
Che quelli almeno sono tuoi
Forse mi trovo
Forse non sono nemmeno lontano da me
Forse mi trovo
E mi trovo bene
Forse ti trovo
Per non cercarmi mai più
Mai più
Forse mi trovo
Forse non sono nemmeno lontano da me
Forse mi trovo
E mi trovo bene
Forse ti trovo
Per non cercarmi mai più
Mai più



sábado, 25 de maio de 2013

Alma Welt - Sobre a alma

A simpatia e a superficie, o vernis de uma alma amorosa. A alma mesma e crua, em carne viva. Frequentemente assusta...

Alma Welt

terça-feira, 21 de maio de 2013

Summertime - Chet Baker

Summertime - Chet Baker


http://www.youtube.com/watch?v=lxz434IfgQM


GERSHWIN, GEORGE / HEYWARD, DU BOSE / HEYWARD, DOROTHY / GERSHWIN, IRA


Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high

Oh, Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry

One of these mornings
You're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky

But until that morning
There's a'nothing can harm you
With your daddy and mammy standing by

Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high

Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry




Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa


Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Trecho Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa

Trecho de A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade


 A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
Trecho de A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade

Tabacaria - Fernando Pessoa


Tabacaria - Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Trecho de Tabacaria - Fernando Pessoa

A Terra Desolada - T. S. Eliot


A Terra Desolada - T. S. Eliot

Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.
Trecho de “Terra Desolada”, T. S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Poème de baudelaire - Damien Saez

Poème de baudelaire - Damien Saez


Avons-nous donc commis une action étrange?
Explique si tu peux mon trouble et mon effroi
Je frissonne de peur quand tu me dis "Mon ange"
Et cependant je sens ma bouche aller vers toi

Ne me regarde pas ainsi, toi ma pensée!
Toi que j´aime à jamais, ma sœur d´élection
Quand même tu serais une embuche dressée
Et le commencement de ma perdition
Quand même tu serais une embuche dressée
Et le commencement de ma perdition

Qui donc devant l´amour ose parler d´enfer?

Maudit soit à jamais le rêveur inutile
Qui voulut le premier, dans sa stupidité,
S´éprenant d´un problème insoluble et stérile,
Aux choses de l´amour mêler l´honnêteté!

Celui qui veut unir dans un accord mystique
L´ombre avec la chaleur, la nuit avec le jour,
Ne chauffera jamais son corps paralytique
A ce rouge soleil que l´on nomme l´amour

On ne peut ici-bas contenter qu´un seul maître
Mais l´enfant épanchant son immense douleur
Cria soudain "Je sens s´élargir dans mon être
Un abîme géant, cet abîme est mon cœur"

Brûlant comme un volcan, profond comme le vide
Rien ne rassasiera ce monstre gémissant
Et ne rafraîchira la soif de l´Euménide
Qui, la torche à la main, le brûle jusqu´au sang

Que nos rideaux fermés nous séparent du monde
Et que la lassitude amène le repos
Je veux m´anéantir dans ta gorge profonde
Et trouver sur ton sein la fraicheur des tombeaux

Descendez, descendez, lamentables victimes
Descendez le chemin de l´enfer éternel
Plongez au plus profond du gouffre où tous les crimes
Flagellés par un vent qui ne vient pas du ciel

Jamais un rayon frêle n´éclaira vos cavernes
Par les fentes des murs, des miasmes fiévreux
Filtrent en s´enflammant ainsi que des lanternes
Et pénètrent vos corps de leurs parfums affreux

C´est votre destin, à vous désormais
De trier l´infini que vous portez en manteau

"Hippolyte, cher cœur, que dis tu de ces choses?
Comprends-tu maintenant qu´il ne faut pas offrir
L´holocauste sacré de tes premières roses
Aux souffles violents qui pourraient les flétrir?

Hippolyte, ô ma sœur! Tourne donc ton visage
Toi, mon âme et mon cœur, mon tout et ma moitié

Tourne vers moi tes yeux pleins d´azur et d´étoiles!
Pour un de ces regards charmants, baume divin
Des plaisirs plus obscurs je lèverai les voiles
Et je t´endormirai dans un rêve sans fin

Fotografia © Leonora Fink


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Manoel de Barros

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

EVERYTHING WILL BE OK - by DON HERTZFELDT


EVERYTHING WILL BE OK - by DON HERTZFELDT



http://www.youtube.com/watch?v=1IUX0Qy-IDM

terça-feira, 14 de maio de 2013

The Oscar Peterson Trio - What are you doing the rest of your life


The Oscar Peterson Trio - What are you doing the rest of your life


Mario Biondi - This is What You Are


Mario Biondi - This is What You Are remix



http://www.youtube.com/watch?v=7st8V-MLIdI


Take me up and let me down
Hold me when I'm sad
Take my eyes to look around
Take my ears to listen to the stars
This is what you are
Knock me down Knock me out
Make me feel shy
But when you hold me in your arms
I can just forget the tears I've cried
This is what you are
Write your number on my wall
It's all you gotta do
Carve your shadow on my soul even when you break my heart in two
This is what you are
lalalalalaia
This is what you are
sha la la
Take me up and let me down
Hold me when I'm sad
Take my eyes to look around
Take my ears to listen to the stars
This is what you are
Knock me down knock me out
Make me feel shy
But when you hold me in your arms
I can just forget the tears I've cried
This is what you are
say ah ah
This is what you are
lalalalalaia
This is what you are
sha la la

domingo, 12 de maio de 2013

Billie Holiday - Say It With A Kiss

Billie Holiday - Say It With A Kiss

http://www.youtube.com/watch?v=mIeMtJ6BRJ0

Johnny Mercer / Harry Warren

Let me hear you say it
Say it with a kiss
It you mean that look I've seen
Say it with a kiss
There is wine and candle shine
And music in your lips
Music in the tops
Of your fingertips


Words may not convey it
Say it with a kiss
And your look might speak a book
That my eyes might miss
You don't have to know the words
To love's familiar tune
Say it with a kiss
And say it soon



Lua. 13 maio 2013. Fotografia © Leonora Fink 

Billie Holiday - I've Got A Date With A Dream


Billie Holiday - I've Got A Date With A Dream



http://www.youtube.com/watch?v=z7qKUuQfLFA&feature=youtu.be

I've got a date with a dream
A dream divine
I've got a date with a dream
Who may be mine

I've got to hurry and dress
To meet him at seven
When any old corner becomes a corner
Of heaven, blue heaven

I'm gonna dance with a dream
We'll dance on air
I'm gonna speak to a dream
And tell him I care

And when the evening is over
I'll kiss him goodnight and then
I'll have a date with a dream
And meet him all over again

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Eu te amo - Sergio Vaz

Eu te amo

O que eu tenho pra te falar
nao é de comer, mas devora a carne
não é de beber, mas é de embriagar
não se deve ouvir
nem se calar
nem sorrir
nem gargalhar
não é sobre o fogo
mas queima como o inferno
não se diz com a boca
se diz com a pele
não é sobre a morte
nem sobre a vida
é sobre a eternidade
não é proibido nem permitido
não é calor nem neve
não é beijo partido
nem carícia de leve
não é sobre o vento
redemoinhos
coisas de duvidar
não é infinito
ora dura um século ora dura uma eternidade
mas se diz apenas em um segundo:
eu te amo.

Sergio Vaz. IN Colecionador de pedras. Global Editora.