Amor e seu tempo
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
Soneto - Chico Buarque de Hollanda
Soneto
Chico Buarque, 1972
Para o filme Quando o carnaval chegar, Cacá Diegues
Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio
Chico Buarque, 1972
Para o filme Quando o carnaval chegar, Cacá Diegues
Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Carlos Drummond de Andrade - Amar - Paulo Autran
Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
"O mundo é grande e cabe nesta janela para o mar
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar"
Carlos Drummond Andrade
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar"
Carlos Drummond Andrade
Maria Bethânia - poema de Fauzi Arap - Jeito estúpido de amar
Texto de Fauzi Arap Com Fundo Musical Jogo de Damas Maria Bethânia
Eu vou te contar que você não me conhece,
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não
Me ouve.
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo mas preso ao que
Eu criei
E não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo
Maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das
Atenções.
Mas a mentira da aparencia do que eu sou,
E a mentira da aparencia do que você é.
Porque eu,
Eu não sou o meu nome,
E você não é ninguém.
O jogo perigoso que eu pratico aqui,
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação,
Através da aceitação da distância e do reconhecimento
Dela.
Entre eu e você existe
A noticia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da noticia
E a minha nudez parada
Te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com as quais
Você me veste.
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não
Me ouve.
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo mas preso ao que
Eu criei
E não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo
Maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das
Atenções.
Mas a mentira da aparencia do que eu sou,
E a mentira da aparencia do que você é.
Porque eu,
Eu não sou o meu nome,
E você não é ninguém.
O jogo perigoso que eu pratico aqui,
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação,
Através da aceitação da distância e do reconhecimento
Dela.
Entre eu e você existe
A noticia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da noticia
E a minha nudez parada
Te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com as quais
Você me veste.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Bordeaux - Leonora Fink
Entre sons de cristais,
silêncios e vãos
respiramos mudos
eu vinho,
você pão.
Leonora Fink
silêncios e vãos
respiramos mudos
eu vinho,
você pão.
Leonora Fink
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
O mar - Leonora Fink
Encontro afinal, o mar.
Portal líquido, para atravessar.
Nado movimentos vivos.
Mergulho pupilas sem fim.
Escorro, maré vazante.
Nua, a desenhar na areia.
Espero o retorno do ar.
Leonora Fink
Portal líquido, para atravessar.
Nado movimentos vivos.
Mergulho pupilas sem fim.
Escorro, maré vazante.
Nua, a desenhar na areia.
Espero o retorno do ar.
Leonora Fink
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Eros e Psiquê - Fernando Pessoa
"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
Do além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E,inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."
Maria Bethania canta Vila do Adeus e declama a poesia Eros e Psiquê no Prêmio Shell 2008
http://br.youtube.com/watch?v=LEKA1mAVrJ8
sábado, 1 de novembro de 2008
Portas e janelas - Leonora Fink
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