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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Luís Vaz de Camões

sábado, 11 de agosto de 2012

Luís Vaz de Camões

Os reinos e os impérios poderosos, 
Que em grandeza no mundo mais cresceram, 
Ou por valor de esforço floresceram, 
Ou por varões nas letras espantosos. 

Teve Grécia Temístocles; famosos,
Os Cipiões a Roma engrandeceram;
Doze Pares a França glória deram;
Cides a Espanha, e Laras belicosos.

Ao nosso Portugal, que agora vemos
Tão diferente de seu ser primeiro,
Os vossos deram honra e liberdade.

E em vós, grão sucessor e novo herdeiro
Do Braganção estado, há mil extremos
Iguais ao sangue e mores que a idade.

Luís Vaz de Camões

sábado, 9 de junho de 2012

Luís Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança: 
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança: 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem (se algum houve) as saudades. 

O tempo cobre o chão de verde manto, 
Que já coberto foi de neve fria, 
E em mim converte em choro o doce canto. 

E afora este mudar-se cada dia, 
Outra mudança faz de mor espanto, 
Que não se muda já como soía. 

Luís Vaz de Camões




Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Leda serenidade deleitosa, 
Que representa em terra um paraíso; 
Entre rubis e perlas, doce riso, 
Debaixo de ouro e neve, cor-de-rosa; 

Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser formosa;

Fala de que ou já vida, ou morte pende,
Rara e suave, enfim, Senhora, vossa,
Repouso na alegria comedido:

Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"




segunda-feira, 30 de abril de 2012

Luís Vaz de Camões

Na metade do Céu subido ardia 
O claro, almo Pastor, quando deixavam 
O verde pasto as cabras, e buscavam 
A frescura suave da água fria. 

Com a folha das árvores, sombria, 
Do raio ardente as aves se amparavam; 
O módulo cantar, de que cessavam, 
Só nas roucas cigarras se sentia. 

Quando Liso Pastor, num campo verde,
Natércia, crua Ninfa, só buscava
Com mil suspiros tristes que derrama.

Porque te vás de quem por ti se perde,
Para quem pouco te ama? (suspirava)
E o eco lhe responde: Pouco te ama.

Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões

Quem fosse acompanhando juntamente 
Por esses verdes campos a avezinha, 
Que despois de perder um bem que tinha, 
Não sabe mais que cousa é ser contente! 

E quem fosse apartando-se da gente, 
Ela por companheira e por vizinha, 
Me ajudasse a chorar a pena minha, 
E eu a ela também a que ela sente! 

Ditosa ave! que ao menos, se a natura
A seu primeiro bem não dá segundo,
Dá-lhe o ser triste a seu contentamento.

Mas triste quem de longe quis ventura
Que para respirar lhe falte o vento,
E para tudo, enfim, lhe falte o mundo!

Luís Vaz de Camões