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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Cecília Meireles - Viagem

Gargalhada
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho! 
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir. 
Dobra essa orelha grosseira, e escuta 
o ritmo e o som da minha gargalhada: 


Ah! Ah! Ah! Ah! 
Ah! Ah! Ah! Ah! 

Não vês? 
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro. 
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais, 
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas, 
destruir as lâmpadas, abater cúpulas, 
e atirar para longe os pandeiros e as liras... 

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada. 

Mas é preciso ter baixelas de ouro, 
compreendes? 
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas. 
E as lâmpadas, Deus do céu! 
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trémulas... 

Escuta bem: 

Ah! Ah! Ah! Ah! 
Ah! Ah! Ah! Ah! 

Só de três lugares nasceu até hoje esta música heroica: 
do céu que venta, 
do mar que dança, 
e de mim. 

Cecília Meireles - in Viagem

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cecília Meireles - Mensagem a um desconhecido

Mensagem a um desconhecido

Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.


Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado.

Fevereiro, 1956

Cecília Meireles

terça-feira, 3 de julho de 2012

Cecília Meireles

"Alguns dos melhores momentos da vida a gente experimenta de olhos fechados, tudo o que acontece dá para imaginar... Tudo o que se imagina, pode acontecer."

Cecília Meireles

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cecília Meireles - O Amor

O Amor

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados.
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos.


Cecília Meireles

domingo, 29 de abril de 2012

Cecília Meireles

Cecília Meireles

Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar.
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura e encanto indiferente
de herança, em cada lugar.
Rastro de flor e de estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.

Um dia de primavera - LI PO

Um dia de primavera - LI PO 


Nossa vida no mundo é apenas um grande sonho.
Então, para que nos atormentaremos?
Prefiro beber o dia inteiro,
e ficar deitado à sombra.

Ao acordar, olho em redor:
um pássaro gorjeia entre as flores.
Rogo-lhe que me informe
sobre a estação do ano, e ele responde
que estamos na época em que a primavera
faz cantarem os pássaros.

Como principiava a enternecer-me,
recomecei a beber,
cantei até a lua chegar
e de novo tornei a perder a noção das coisas.

(Um dia de primavera do poeta chinês LI PO - tradução Cecília Meireles)




sábado, 21 de abril de 2012

Os Inconfidentes - Cecília Meireles - Provocações

Os Inconfidentes




http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Qh4kvjvT3EE

TODA VEZ QUE UM JUSTO GRITA
UM CARRASCO O VEM CALAR
QUEM NÃO PRESTA FICA VIVO
QUEM É BOM, MANDAM MATAR
QUEM NÃO PRESTA FICA VIVO
QUEM É BOM, MANDAM MATAR

FOI TRABALHAR PARA TODOS
E VEDE O QUE LHE ACONTECE
DAQUELES A QUEM SERVIA
JÁ NENHUM MAIS O CONHECE
QUANDO A DESGRAÇA É PROFUNDA
QUE AMIGO SE COMPADECE?

FOI TRABALHAR PARA TODOS
MAS, POR ELE, QUEM TRABALHA?
TOMBADO FICA SEU CORPO
NESSA ESQUISITA BATALHA
SUAS AÇÕES E SEU NOME
POR ONDE A GLÓRIA OS ESPALHA?

POR AQUI PASSAVA UM HOMEM 
(E COMO O POVO SE RIA!)
QUE REFORMAVA ESTE MUNDO
DE CIMA DA MONTARIA
POR AQUI PASSAVA UM HOMEM
(E COMO O POVO SE RIA!)
ELE NA FRENTE FALAVA
E ATRÁS A SORTE CORRIA

POR AQUI PASSAVA UM HOMEM
(E COMO O POVO SE RIA!)
LIBERDADE AINDA QUE TARDE
NOS PROMETIA

Cecília Benevides de Carvalho Meireles 


Programa Provocações 
Poesia apresentada no Programa 429




terça-feira, 27 de março de 2012

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cecília Meireles - Poesia

Tenho fases, como a lua 
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Cecília Meireles
 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cecília Meireles

Dai-me Senhor a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avançar.


Cecília Meireles

Atitude - CECÍLIA MEIRELES

Minha esperança perdeu seu nome... 
Fechei meu sonho, para chamá-la. 
A tristeza transfigurou-me 
como o luar que entra numa sala. 

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes."


Atitude
CECÍLIA MEIRELES

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Cecília Meireles - AQUI ESTOU NOS VALES DA TERRA

AQUI ESTOU NOS VALES DA TERRA

Aqui estou nos vales da terra,
em mim dobrada, em tristes raízes.

Ó Noite, silêncio, grandeza do mundo!
E em cima em e em redor, e para mim muito longe
continua o oceano do universo.

Aqui estou, frágil âncora de ossos e sofrimento,
pequena pedra, coisa pensante, fragmento.
Julgo que sei e não sei, tímido, entre mistérios amados.
Vivo do que sonho, e tudo mais parece morte.

Aqui estou sozinho na noite dupla do mundo e da alma.
Tudo é tão fulgurante e imenso e mudo:
nave mágica, palácio múltiplo, invisívivel monarca.

E eu sou a raiz dentro da terra,
a âncora caída,
eu sou como um caõzinho muito cansado
no meio do campo,
na úmida praia,
no limiar de uma porta solene

Cecília Meireles
Fevereiro 1961


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Cecília Meireles - Poesia

‎Meus dias foram aquelas romãs brunidas
repletas de cor e sumo e doçura compacta.
Foram aquelas dálias, redondas colméias
cheias de abelhas, de vento e de horizontes.
Meus dias foram aquelas negras raízes
escravas, caminhando por humildes subterrâneos.
Foram aquelas rosas duramente construídas
e logo sopradas por lábios displicentes.
Ah! meus dias foram aqueles sóbrios cactos
de raríssima flor encravada em coroas de espinhos.
Meus dias foram estes altos muros robustos,
este peso de enormes pedras, este cansado limite,
onde pousavam solidões, palavras, enganos
com o brilho, a inconstância desta incerta borboleta.

Cecília Meireles

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Serenata - Cecília Meireles

Serenata


Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de fonte fria.
O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.
Repara na canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.
É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.
Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.
E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura
por eternidades serenas.


Cecília Meireles

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cecília Meireles - Adeuses

Esses adeuses que caíam pelos mares,
declamatórios , a pregar sua amargura,
emudeceram ; já não há tempos nem ecos.
Perdeu-se a forma dos abraços .



 Cecília Meireles

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cecília Meireles - Poesia

Mais cores...o azul
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

Cecília Meireles


As Ilhas, São Sebastião, SP Brasil - Fotografia Leonora Fink

domingo, 31 de julho de 2011

A arte de ser feliz - Cecília Meireles

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que
pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um
galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar,
cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.



Cecília Meireles

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poesia - Cecília Meireles

Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde és Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente silencioso.
Até a glória de ficar silencioso.
Sem pensar.
Cecília Meireles