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terça-feira, 7 de maio de 2013

Silencio - A Antônio Corrêa d'OMveira

Silencio 
(A Antônio Corrêa d'OMveira)

Mysteriosa expressão da alma das cousas mudas,
Silencio – pallio immenso aos enigmas aberto,
espelho onde a tristeza universal se estampa.
Silencio – gestação das dôres crueis, agudas,
solenne imperador da Treva e do Deserto,
estagnação dos sons, berço, refugio e campa.

Silencio – tenebroso e insondavel oceano,
tudo quanto nos teus abysmos vive immerso,
tem a secreta voz dos rochedos, das lousas.
És a concentração do sêr pensante, humano,
a vida espiritual e occulta do universo,
a communicação invisivel das cousas.


Um intimo pezar toda tua alma invade,
ó meu velho eremita! ó monge amargurado!
Dentro da cathedral da verde natureza,
ouço-te celebrar a missa da Saudade
e invocar a remota effigie do Passado,
dando-me a communhão sublime da tristeza.

Seja engano, talvez, do meu cerebro enfermo,
mas eu comprehendo os teus sentimentos profundos,
eu te sinto cantar olentes melopéas...
Foste o inicio de tudo e de tudo és o termo.
Silencio – concepção primitiva dos mundos,
cosmopéa etheral de todas as idéas.

Silencio – solidão de symptomas medonhos,
pantano onde do mal desenvolvem-se os vermes,
fonte da inspiração, rio do esquecimento,
lagôa em cujo fundo os sapos dos meus sonhos,
postos alheiamente, inanimes, inermes,
fitam de estranho ideal o fulgor opulento.

Ó Silencio! Ó visão subjectiva da Morte!
- refúgio passional que eu sempre busco e anceio,
gôso de recordar... torturas e confortas,
pois fazes com que ao teu influxo eu me transporte
ao seio da Saudade, a esse funereo seio
- esquife onde revejo as illusões já mortas.

Da scisma na minha alma o triste cunho imprimes,
és o somno, o desmaio, o natural mysterio,
trazes-me a sensação dos gélidos tormentos;
e si nesse teu ventre hão germinado os crimes,
no teu cérebro enorme, universal, ethereo,
têm-se desenvolvido os grandes pensamentos.

Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)