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quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Além da Terra, Além do Céu

ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU

Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
Carlos Drummond de Andrade

Publicado por Tamar Zisman no FB

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Pois de amor andamos todos precisados. Carlos Drummond de Andrade

"Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando."
- Carlos Drummond de Andrade 

sábado, 16 de maio de 2015

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Carlos Drummond de Andrade - Se procurar bem

Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As Sem Razões do Amor - Carlos Drummond de Andrade

As Sem Razões do Amor
Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Memória - Carlos Drummond de Andrade

Memória
Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.



2013. Fotografia © Leonora Fink

terça-feira, 21 de maio de 2013

Trecho de A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade


 A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
Trecho de A Máquina do Mundo - Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 16 de abril de 2013

Carlos Drummond de Andrade - O Amor Bate na Aorta

O Amor Bate na Aorta

Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Carlos Drummond de Andrade - Explicação

Explicação

Meu verso é minha consolação. 
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua, cachaça. 
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres, 
folha de taioba, pouco importa: tudo serve.


Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.

Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota
mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre. Sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu pais, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
A beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrcgo vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era...
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.

Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 25 de novembro de 2012

As Sem Razões do Amor - Carlos Drummond de Andrade

As Sem Razões do Amor
(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo. 
Não precisas ser amante, 

e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

- in 'O Corpo'







Ilhas Canarias. 2012. Fotografia © Leonora Fink 


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As Sem Razões do Amor - Carlos Drummond de Andrade

As Sem Razões do Amor

Eu te amo porque te amo. 
Não precisas ser amante, 
e nem sempre sabes sê-lo. 

Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Amor, pois que é palavra essencial - Carlos Drummond de Andrade

Amor, pois que é palavra essencial
Carlos Drummond de Andrade

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se

até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.

Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor - o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.

Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.

No mármore de tua bunda gravei o meu epitáfio.
Agora que nos separamos, minha morte já não me pertence.
Tu a levaste contigo.

(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.

Sugar e ser sugado pelo amor no
mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um
o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar e ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.

- do Livro 'Poemas Eróticos' 

sábado, 13 de outubro de 2012

Carlos Drummond de Andrade - Casa arrumada

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Carlos Drummond de Andrade - Amor

Amor
Há vários motivos para não amar uma pessoa,
e um só para amá-la; este prevalece.

Carlos Drummond de Andrade, In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,

roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.





Carlos Drummond de Andrade, Amor e seu tempo In: Alguma Poesia

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Carlos Drummond de Andrade - A Flor e a Naúsea

Uma flor nasceu na rua! 
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. 
Uma flor ainda desbotada 
ilude a polícia, rompe o asfalto. 
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, 

garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade - A Flor e a Naúsea






terça-feira, 31 de julho de 2012

Caetano Veloso - Elegia 1938 (Carlos Drummond de Andrade)

Caetano Veloso - Elegia 1938 (Carlos Drummond de Andrade)




http://www.youtube.com/watch?v=AqNjbqQwOzE&feature=share



ELEGIA

 Ganhei (perdi) meu dia.
 E baixa a coisa fria
 também chamada noite, e o frio ao frio
 em bruma se entrelaçam, num suspiro.

 E me pergunto e me respiro
 na fuga deste dia que era mil
 para mim que esperava,
 os grandes sóis violentos, me sentia
 tão rico deste dia
 e lá se foi secreto, ao serro frio.

 Perdi minha alma à flor do dia ou já perdera
 bem antes sua vaga pedraria ?
 Mas quando me perdi, se estou perdido
 antes de haver nascido
 e me nasci votado à perda
 de frutos que não tenho nem colhia ?

 Gastei meu dia. Nele me perdi.
 De tantas perdas uma clara via
 por certo se abriria
 de mim a mim, estrela fria.
 As arvores lá fora se meditam.
 O inverno é quente em mim, que o estou berçando
 e em mim vai derretendo
 este torrão de sal que está chorando.

 Ah, chega de lamento e versos ditos
 ao ouvido de alguém sem rosto e sem justiça,
 ao ouvido do muro,
 ao liso ouvido gotejante
 de uma piscina que não sabe o tempo, e fia
 seu tapete de água, distraída.

 E vou me recolher
 ao cofre de fantasmas, que a notícia
 de perdidos lá não chegue nem açule
 os olhos policiais do amor-vigia.
 Não me procurem que me perdi eu mesmo
 como os homens se matam, e as enguias
 à loca se recolhem, na água fria.

 Dia,
 espelho de projeto não vivido,
 e contudo viver era tão flamas
 na promessa dos deuses; e é tão ríspido
 em meio aos oratórios já vazios
 em que a alma barroca tenta confortar-se
 mas só vislumbra o frio noutro frio.

 Meu Deus, essência estranha
 ao vaso que me sinto, ou forma vã,
 pois que, eu essência, não habito
 vossa arquitetura imerecida;
 meu Deus e meu conflito,
 nem vos dou conta de mim nem desafio
 as garras inefáveis: eis que assisto
 a meu desmonte palmo a palmo e não me aflijo
 de me tornar planície em que já pisam
 servos e bois e militares em serviço
 da sombra, e uma criança
 que o tempo novo me anuncia e nega.

 Terra a que me inclino sob o frio
 de minha testa que se alonga,
 e sinto mais presente quando aspiro
 em ti o fumo antigo dos parentes,
 minha terra, me tens; e teu cativo
 passeias brandamente
 como ao que vai morrer se estende a vista
 de espaços luminosos, intocáveis:
 em mim o que resiste são teus poros.
 E sou meu próprio frio que me fecho
 Corto o frio da folha. Sou teu frio.

 E sou meu próprio frio que me fecho
 longe do amor desabitado e líquido,
 amor em que me amaram, me feriram
 sete vezes por dia em sete dias
 de sete vidas de ouro,
 amor, fonte de eterno frio,
 minha pena deserta, ao fim de março,
 amor, quem contaria ?
 E já não sei se é jogo, ou se poesia.

                       Carlos Drummond de Andrade

sábado, 30 de junho de 2012

Carlos Drummond de Andrade

Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.


Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.





Carlos Drummond de Andrade