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terça-feira, 31 de julho de 2012

Cecília Meireles - O Amor

CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)
 'Amor'

Deixa-te estar embalado no mar noturno
onde se apaga e acende a salvação...


Deixa-te estar na exalação dos sonhos sem forma:
com ela caminha o horizonte dos meus braços abertos,
e por cima do céu estão meus olhos pregados, guardando-te.

Deixa-te balançar entre a vida e a morte, sem nenhuma saudade: Deslizam os astros na abundância do tempo que cai: Nós somos pequenos como um ponto de pólen rodando entre os mundos.

Deixa-te estar neste embalo de água gerando círculos... Nem é preciso dormir para a imaginação desmanchar-se em figuras ambíguas... Nem é preciso fazer nada para se estar na alma de tudo... Nem é preciso querer mais, - que vem de nós um beijo eterno e afoga a boca da vontade e os seus pedidos...


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[Carta], 1956 Out. 9, Rio [de Janeiro a Adolfo] Casais Monteiro, [s.l.] / Cecília Meireles. — [1] p. Autógrafo a tinta azul, assinado. — Envia colaboração para O Estado de São Paulo, acrescentando: «Telefone um destes dias, e venha contar-nos as suas aventuras literárias nestes Brasis! Desejo que a Senhora esteja melhor, mas não tenho coragem para pedir-lhe que a traga, antes de conhecer estas minhas escadas babilónicas…». — Tem junto duas folhas com os poemas Descripção e Amor.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cecilia Meireles - Anjo da guarda

Anjo da guarda

Solidão que outros miram com desprezo,
silêncio que aos demais aflige tanto,
um pensamento na vigília aceso,

um coração que não deseja nada
-esse é o mundo a que chegas, onde a vida,
só do sonho de ser é sustentada.

Debruço-me, e não vejo de que parte
podes ter vindo, nem por que motivo.
E a coragem perdi de perguntar-te.

Deixo-te isento. Não serás cativo
de quem não te quer ver no cativeiro
de enigmas em que voluntária vivo.

Mas não partes; que, cego e sem memória,
por instinto conheces teu caminho,
e vens e ESTÁS, alheio à tua história.

E és como estrela, em séculos movida,
que num lugar do céu foi colocada
por uma simetria não sabida.

cecilia meireles, in mar absoluto e outros poemas