terça-feira, 31 de agosto de 2021

O que importa o tempo decorrido? Oscar Wilde

"Que importa o tempo decorrido? Só os espíritos superficiais necessitam de anos para se libertarem de uma emoção. O homem que é senhor de si mesmo pode emancipar-se de um pesar tão depressa como é capaz de inventar uma distração. Eu não pretendo estar a mercê das minhas emoções. Quero usá-las, aproveitá-las, dominá-las."

"O passado, o presente e o futuro, mais não são que um momento aos olhos de Deus, sob cujo o olhar devemos tentar viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão não são mais do que condições acidentais do pensamento. A imaginção pode trancedê-las, e passar para uma esfera livre de existências e ideais."

Oscar Wilde

sábado, 21 de agosto de 2021

Isaías

Publicação da Lea Beraldo, no FB

"Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!"
Isaías 5:20

Profeta Isaias saído dos pincéis de Michelangelo (1475 - 1564) na Capela Sistina entre os anos 1508 e 1512)

sábado, 7 de agosto de 2021

Rifa-se um coração. Clarice Lispector

Rifa-se um coração - Clarice Lispector


Rifa-se um coração

quase novo.

Um coração idealista.

Um coração como poucos.

Um coração à moda antiga.

Um coração moleque

que insiste em pregar

peças no seu usuário.

Rifa-se um coração

que na realidade

está um pouco usado,

meio calejado,

muito machucado

e que teima em alimentar

sonhos e cultivar ilusões.

Um pouco inconseqüente,

que nunca desiste

de acreditar nas pessoas.

Um leviano

e precipitado coração

que acha que Tim Maia

estava certo

quando escreveu...

“Não quero dinheiro,

eu quero amor sincero,

é isso que eu espero..."

Um idealista...

Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração

que nunca aprende.

Que não endurece,

e mantém sempre viva

a esperança de ser feliz

sendo simples e natural

Um coração insensato,

que comanda o racional,

sendo louco o suficiente

para se apaixonar.

Um furioso suicida

que vive procurando

 relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração

que insiste em cometer

sempre os mesmos erros.

Esse coração

que erra, briga, se expõe.

Perde o juízo por completo

em nome de causas e paixões.

 Sai do sério e, às vezes,

 revê suas posições

arrependido

de palavras e gestos.

Este coração tantas vezes

incompreendido.

Tantas vezes provocado.

Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional,

que abre sorrisos tão largos

que quase dá

pra engolir as orelhas,

mas que também

arranca lágrimas

e faz murchar o rosto.

Um coração para ser alugado,

ou mesmo utilizado

por quem gosta

de emoções fortes.

Um órgão abastado,

indicado apenas

para quem quer viver

intensamente

e, contra indicado

para os que apenas

pretendem passar pela vida

matando o tempo,

defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração

tão inocente

que se mostra

sem armaduras

e deixa louco

o seu usuário.

Um coração

 que quando parar de bater

ouvirá o seu usuário dizer

na hora da prestação de contas:

"O Senhor pode conferir.

Eu fiz tudo certo,

só errei quando coloquei sentimento.

Só fiz bobagens e me dei mal

quando ouvi este louco

coração de criança

que insiste em não endurecer,

e se recusa a envelhecer".

 Rifa-se um coração,

 ou mesmo troca-se por outro

 que tenha um pouco

 mais de juízo.

 Um órgão mais fiel

 ao seu usuário.

 Um amigo do peito

 que não maltrate tanto

 o ser que o abriga.

 um coração que não seja

 tão inconseqüente.

 Rifa-se um coração

 cego, surdo e mudo,

 mas que incomoda um bocado.

 Um verdadeiro

 caçador de aventuras

 que ainda não foi adotado,

 provavelmente,

 por se recusar a cultivar

 ares selvagens ou racionais,

 por não querer perder o estilo.

 Oferece-se

 um coração vadio,

 sem raça, sem pedigree.

 Um simples

 coração humano.

 Um impulsivo membro

 de comportamento

 até meio ultrapassado.

 Um modelo cheio

 de defeitos que,

 mesmo estando

 fora do mercado,

 faz questão

 de não se modernizar,

 mas vez por outra,

 constrange

 o corpo que o domina.

 Um velho coração

 que convence

 seu usuário

 a publicar

 seus segredos

 e a ter a petulância

 de se aventurar

 como poeta.