Mostrando postagens com marcador João Cabral de Mello Neto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador João Cabral de Mello Neto. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 30 de agosto de 2011

João Cabral de Mello Neto - SEVILHA E O PROGRESSO

Sevilha é única cidade
que soube crescer sem matar-se.
Cresceu do outro lado do rio ,
cresceu ao redor, como os circos,
conservando puro seu centro,
intocável, sem que seus de dentro
tenham perdido a intimidade;
que ela só , entre todas as cidades,
pode o aconchego de mulher ,
pode o macio existir do mel ,
que outrora guardava nos pátios
e hoje é de todo antigo bairro.



 João Cabral de Mello Neto, SEVILHA E O PROGRESSO

terça-feira, 5 de abril de 2011

João Cabral de Mello Neto - Barcaça

BARCAÇA

Ele embarcou numa mulher
(Um dia, foi numa cidade:
a vida cigana de então
pedia porto onde ancorasse.

Em Sevilha matriculou-se:
se nele é meteco, ninguém
habitou mais fundo esse porto
nem o soube do quê ao quem).

Hoje embarcou numa mulher.
Recifense(porto-alegrense), ele a chama barcaça,
que é o barco mais feminino,
é mulher feito barco e casa

Mas nunca fez por anular
o registro da barca antiga:
na barcaça pernambucana(gaúcha)
na proa se lê "Sevilha".

E nela embarcou sem querer
saber o que fazem com ela:
já se carrega pouco açúcar
nas barcaças fêmeas, à vela.

Que importa se vai Norte ou Sul?
Se vai a Goiana ou Barreiros?
Tem o registro de Sevilha
e é sem timão, sem timoneiro

( joao cabral de mello neto - sevilha andando)