(à deusa do mar)
Quem pode mapear o coração humano, enquanto seu dono estende os braços sobre o mar, se a poesia também é feita nestas mesmas águas? E quem, mesmo que pudesse, saberia explicar a alforria no peito que celebra o selvagem mistério líquido e salino, senão pela vertigem do crepúsculo, caiando nos azuis o dourado? Os pássaros da hora, insondáveis. Portanto, quem sabe do que é capaz um pulsar nas nuances entre o verde e o vento? E quem em frente ao mar não beberá de sua sede, afogado em memórias, nadando vertigens por dentro de ondas? Ainda que muito se lembre quando fundo se mergulha, ou que se mire a linha do horizonte, que é então o futuro, muito pouco se sabe. Traços imemoriais da certeza das águas, sulcando as pedras do Arpoador. Na morada de Iemanjá, rainha que se apodera dos corações dos poetas, o sacramento prescinde de tempo. Apenas o presente bate nas pedras a sua viva água de possibilidades. Arqueja. E pulsa como quem aprendeu que a voz do mar tem dono, e canta como é doce morrer embalado no ir e vir das vagas, no perfume indomável da maresia. Quem, pois, se perfuma de maresia, fadado está ao impermeável dentro das paixões. Conchas e pérolas que adornam a solidão de eremita. Só que no mar não há penitência, há beleza, mesmo furiosa e cruel. O resto não se diz porque tinge de sangue o branco da areia. Mas se sabe a vinho, a veneno, que as redes pescam os enigmas da fome. É de fome o coração do poeta que se devora no mar? É sangue o que o arvora, braços suplicantes de sol, tudo querendo abarcar? Enigma, que no murmúrio do verão, fez do mar mulher, num dois de Fevereiro. Vento ou segredo o mar de uma mulher? Peito ou palavra na sede do sal? Alforria de vento ou de memória? Quem mira a linha do horizonte não sabe mais se rainha ou se poeta. A linha do horizonte não separa o dentro cujas águas dão ao pescador os caminhos da solidão. O mapa que ninguém cartografa, nenhum humano coração esquece, oferenda maior, grande como numa canção
Roberta T Daniel
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Canto de Iemanjá - Vinicius de Moraes
Canto de Iemanjá
Iemanjá, lemanjá
lemanjá é dona Janaína que vem
Iemanjá, Iemanjá
lemanjá é muita tristeza que vem
Vem do luar no céu
Vem do luar
No mar coberto de flor, meu bem
De Iemanjá
De lemanjá a cantar o amor
E a se mirar
Na lua triste no céu, meu bem
Triste no mar
Se você quiser amar
Se você quiser amor
Vem comigo a Salvador
Para ouvir lemanjá
A cantar, na maré que vai
E na maré que vem
Do fim, mais do fim, do mar
Bem mais além
Bem mais além
Do que o fim do mar
Bem mais além
Vinicius de Moraes
Iemanjá, lemanjá
lemanjá é dona Janaína que vem
Iemanjá, Iemanjá
lemanjá é muita tristeza que vem
Vem do luar no céu
Vem do luar
No mar coberto de flor, meu bem
De Iemanjá
De lemanjá a cantar o amor
E a se mirar
Na lua triste no céu, meu bem
Triste no mar
Se você quiser amar
Se você quiser amor
Vem comigo a Salvador
Para ouvir lemanjá
A cantar, na maré que vai
E na maré que vem
Do fim, mais do fim, do mar
Bem mais além
Bem mais além
Do que o fim do mar
Bem mais além
Vinicius de Moraes
Iemanjá |
Prece à Yemanjá
Prece à Iemanjá
Poderosa
força das águas. Inaê, Janaína, Sereia do Mar. Saravá minha Mãe
Iemanjá! Leva para as profundezas do teu mar sagrado. Odoiá... Todas
as minhas desventuras e infortúnios. Traz do teu mar todas as forças
espirituais para alento de nossas necessidades. Paz, esperança,
Odofiabá... Saravá, minha Mãe Iemanjá! ...Odofiabá...
Poderosa
força das águas. Inaê, Janaína, Sereia do Mar. Saravá minha Mãe
Iemanjá! Leva para as profundezas do teu mar sagrado. Odoiá... Todas
as minhas desventuras e infortúnios. Traz do teu mar todas as forças
espirituais para alento de nossas necessidades. Paz, esperança,
Odofiabá... Saravá, minha Mãe Iemanjá! ...Odofiabá...
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