sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

In Extremis - Olavo Bilac

In Extremis - Olavo Bilac

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia 
Assim! de um sol assim! 
Tu, desgrenhada e fria, 
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados, 
E apertando nos teus os meus dedos gelados... 

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera 
Toda azul, no esplendor do fim da primavera! 
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento! 
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento 
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo... 

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo! 
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte, 
E arredar-me de ti, cada vez mais, a morte... 

Eu, com o frio a crescer no coração, — tão cheio 
De ti, até no horror do derradeiro anseio! 
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente, 
A boca que beijava a tua boca ardente, 
A boca que foi tua! 

E eu morrendo! e eu morrendo 
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo 
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, 
A delícia da vida! a delícia da vida!


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