terça-feira, 6 de novembro de 2012

Cecília Meireles - Viagem

Gargalhada
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho! 
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir. 
Dobra essa orelha grosseira, e escuta 
o ritmo e o som da minha gargalhada: 


Ah! Ah! Ah! Ah! 
Ah! Ah! Ah! Ah! 

Não vês? 
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro. 
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais, 
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas, 
destruir as lâmpadas, abater cúpulas, 
e atirar para longe os pandeiros e as liras... 

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada. 

Mas é preciso ter baixelas de ouro, 
compreendes? 
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas. 
E as lâmpadas, Deus do céu! 
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trémulas... 

Escuta bem: 

Ah! Ah! Ah! Ah! 
Ah! Ah! Ah! Ah! 

Só de três lugares nasceu até hoje esta música heroica: 
do céu que venta, 
do mar que dança, 
e de mim. 

Cecília Meireles - in Viagem

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente e deixe seu nome e e-mail, aguarde para receber a resposta, por favor. Agradeço sua participação. Abraço.