AQUI ESTOU NOS VALES DA TERRA
Aqui estou nos vales da terra,
em mim dobrada, em tristes raízes.
Ó Noite, silêncio, grandeza do mundo!
E em cima em e em redor, e para mim muito longe
continua o oceano do universo.
Aqui estou, frágil âncora de ossos e sofrimento,
pequena pedra, coisa pensante, fragmento.
Julgo que sei e não sei, tímido, entre mistérios amados.
Vivo do que sonho, e tudo mais parece morte.
Aqui estou sozinho na noite dupla do mundo e da alma.
Tudo é tão fulgurante e imenso e mudo:
nave mágica, palácio múltiplo, invisívivel monarca.
E eu sou a raiz dentro da terra,
a âncora caída,
eu sou como um caõzinho muito cansado
no meio do campo,
na úmida praia,
no limiar de uma porta solene
Cecília Meireles
Fevereiro 1961
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