sexta-feira, 31 de maio de 2013

O bandarra - Manoel de Barros

O bandarra

Ele só andava por lugares pobres
E era ainda mais pobre
Do que os lugares pobres por onde andava.
Falou de começo: Quem abandona a natureza entra a
verme.
Aves nutriam por ele deslumbramentos de criança.
Ele sabia o sotaque das lesmas
E tinha um modo de árvore pregado no olhar.
O homem usava um dólmã de lã sujo de areia e cuspe
de aves.
Mas ele nem tô aí para os estercos.
Era desorgulhoso.
Para ele a pureza do cisco dava alarme.
E só pelo olfato esse homem descobria as cores do
amanhecer.

Manoel de Barros

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