Silencio
(A Antônio Corrêa d'OMveira)
Mysteriosa expressão da alma das cousas mudas,
Silencio – pallio immenso aos enigmas aberto,
espelho onde a tristeza universal se estampa.
Silencio – gestação das dôres crueis, agudas,
solenne imperador da Treva e do Deserto,
estagnação dos sons, berço, refugio e campa.
Silencio – tenebroso e insondavel oceano,
tudo quanto nos teus abysmos vive immerso,
tem a secreta voz dos rochedos, das lousas.
És a concentração do sêr pensante, humano,
a vida espiritual e occulta do universo,
a communicação invisivel das cousas.
Um intimo pezar toda tua alma invade,
ó meu velho eremita! ó monge amargurado!
Dentro da cathedral da verde natureza,
ouço-te celebrar a missa da Saudade
e invocar a remota effigie do Passado,
dando-me a communhão sublime da tristeza.
Seja engano, talvez, do meu cerebro enfermo,
mas eu comprehendo os teus sentimentos profundos,
eu te sinto cantar olentes melopéas...
Foste o inicio de tudo e de tudo és o termo.
Silencio – concepção primitiva dos mundos,
cosmopéa etheral de todas as idéas.
Silencio – solidão de symptomas medonhos,
pantano onde do mal desenvolvem-se os vermes,
fonte da inspiração, rio do esquecimento,
lagôa em cujo fundo os sapos dos meus sonhos,
postos alheiamente, inanimes, inermes,
fitam de estranho ideal o fulgor opulento.
Ó Silencio! Ó visão subjectiva da Morte!
- refúgio passional que eu sempre busco e anceio,
gôso de recordar... torturas e confortas,
pois fazes com que ao teu influxo eu me transporte
ao seio da Saudade, a esse funereo seio
- esquife onde revejo as illusões já mortas.
Da scisma na minha alma o triste cunho imprimes,
és o somno, o desmaio, o natural mysterio,
trazes-me a sensação dos gélidos tormentos;
e si nesse teu ventre hão germinado os crimes,
no teu cérebro enorme, universal, ethereo,
têm-se desenvolvido os grandes pensamentos.
Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)
terça-feira, 7 de maio de 2013
sábado, 4 de maio de 2013
Bill Gates - Palestra na escola secundária
"Bill Gates foi convidado por uma escola secundária para uma palestra. Chegou de helicóptero, tirou o papel do bolso onde havia escrito onze itens. Leu tudo em menos de 5 minutos, foi aplaudido por mais de 10 minutos sem parar, agradeceu e foi embora em seu helicóptero. O que estava escrito é muito interessante, leiam:
1. A vida não é fácil — acostume-se com isso.
2. O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
3. Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
4. Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
5. Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.
6. Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
7. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
8. Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido… RUA!!! Faça certo da primeira vez!
9. A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
10. Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.
11. Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.
1. A vida não é fácil — acostume-se com isso.
2. O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
3. Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
4. Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
5. Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.
6. Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
7. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
8. Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido… RUA!!! Faça certo da primeira vez!
9. A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
10. Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.
11. Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Janis Joplin - PIECE OF MY HEART
Janis Joplin - PIECE OF MY HEART
http://www.youtube.com/watch?v=CIHny7QEf7o
Oh, come on, come on, come on, come on!
Didn't I make you feel like you were the only man -yeah!
Didn't I give you nearly everything that a woman possibly can ?
Honey, you know I did!
And each time I tell myself that I, well I think I've had enough,
But I'm gonna show you, baby, that a woman can be tough.
I want you to come on, come on, come on, come on and take it,
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby!
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah, yeah,yeah.
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby,
You know you got it if it makes you feel good,
Oh, yes indeed.
You're out on the streets looking good,
And baby deep down in your heart I guess you know that it ain't right,
Never, never, never, never, never, never hear me when I cry at night,
Babe, I cry all the time!
And each time I tell myself that I, well I can't stand the pain,
But when you hold me in your arms, I'll sing it once again.
I'll say come on, come on, come on, come on and take it!
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby.
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah,
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby,
You know you got it, child, if it makes you feel good.
I need you to come on, come on, come on, come on and take it,
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby!
oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart, now darling, yeah, c'monnow.
oh, oh, have a
Have another little piece of my heart now, baby.
You know you got it -whoahhhhh!!
Take it!
Take it! Take another little piece of my heart now, baby,
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart, now darling, yeah, yeah,yeah, yeah,
Oh, oh, have a
Have another little piece of my heart now, baby, hey,
You know you got it, child, if it makes you feel good.
terça-feira, 30 de abril de 2013
AMAR ALGUÉM - Marisa Monte
AMAR ALGUÉM - Marisa Monte
Amar alguém só pode fazer bem
Não há como fazer mal a ninguém
Mesmo quando existe um outro alguém
Mesmo quando isso não convém
Amar alguém e outro alguém também
É coisa que acontece sem razão
Embora soma cause divisão
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém
Amar alguém não tem explicação
Não há como conter o furacão
Amores vão embora
Amores vêm
Não se decide amar e nem a quem
Amar alguém só pode fazer bem
Seja só uma pessoa ou um harém
Se não existe algoz e nem refém
Amar alguém e outro alguém também
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém
Amar alguém só pode fazer bem
Não há como fazer mal a ninguém
Mesmo quando existe um outro alguém
Mesmo quando isso não convém
Amar alguém e outro alguém também
É coisa que acontece sem razão
Embora soma cause divisão
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém
Amar alguém não tem explicação
Não há como conter o furacão
Amores vão embora
Amores vêm
Não se decide amar e nem a quem
Amar alguém só pode fazer bem
Seja só uma pessoa ou um harém
Se não existe algoz e nem refém
Amar alguém e outro alguém também
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém
domingo, 28 de abril de 2013
Led Zeppelin - homenagem no Kennedy Center Honors
Led Zeppelin homenagem no Kennedy Center Honors
http://www.youtube.com/watch?v=jTLFzQZ99l4&feature=youtu.be
Led Zeppelin - Thank You
Led Zeppelin - Thank You
http://www.youtube.com/watch?v=tfUSZVIWhxA&feature=youtu.be
http://www.youtube.com/watch?v=tfUSZVIWhxA&feature=youtu.be
If the sun refused to shine
I would still be loving you
When mountains crumble to the sea
There'll still be you and me
Kind woman, I give you my all
Kind woman, nothing more
Little drops of rain, whisper of the pain
Tears of loves lost in the days gone by
My love is strong with you there is no wrong
Together we shall go until we die
Inspiration is what you are to me
Inspiration, look to see
And so today, my world it smiles
Your hand in mine we walk the miles
Thanks to you it will be done
For you to me are the only one
Happiness, no longer sad
Happiness, I'm glad
If the sun refused to shine
I would still be loving you
When mountains crumble to the sea
There'll still be you and me, and me
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Satélite - Manuel Bandeira
Satélite
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.
Ah! Lua deste fim de tarde,
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
-Satélite.
Manuel Bandeira
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.
Ah! Lua deste fim de tarde,
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
-Satélite.
Manuel Bandeira
2013. Fotografia © Leonora Fink |
2013. Fotografia © Leonora Fink |
2013. Fotografia © Leonora Fink |
2013. Fotografia © Leonora Fink |
2013. Fotografia © Leonora Fink |
terça-feira, 23 de abril de 2013
William Shakespeare
Saudades - Mia Couto
Saudades
Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trêmula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono
Mia Couto, no livro "Raiz de Orvalho e outros poemas".
Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trêmula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono
Mia Couto, no livro "Raiz de Orvalho e outros poemas".
Oração de São Jorge
Oração de São Jorge
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge
para que meus inimigos tendo pés, não me alcancem;
tendo mãos, não me peguem;
tendo olhos, não me vejam
e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar,
cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça,
Virgem de Nazaré me cubra com o seu manto sagrado e divino,
protegendo-me em todas as minhas dores e aflições,
e Deus com sua Divina Misericórdia e grande poder
seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus,
estenda-me o seu escudo e suas poderosas armas,
defendendo-me com sua força e grandeza,
e que, debaixo das patas de seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.
Assim seja, com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
Pintura Gustave Moreau, St Geoges et le dragon
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge
para que meus inimigos tendo pés, não me alcancem;
tendo mãos, não me peguem;
tendo olhos, não me vejam
e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar,
cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça,
Virgem de Nazaré me cubra com o seu manto sagrado e divino,
protegendo-me em todas as minhas dores e aflições,
e Deus com sua Divina Misericórdia e grande poder
seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus,
estenda-me o seu escudo e suas poderosas armas,
defendendo-me com sua força e grandeza,
e que, debaixo das patas de seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.
Assim seja, com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
Pintura Gustave Moreau, St Geoges et le dragon
Pintura Gustave Moreau, St Geoges et le dragon |
Luna - Quint Buchholz
Luna - Quint Buchholz
Cambiemos el nombre
de las cosas,
o mejor,
pongamos un nombre
cada día.
Los nombres distraen mucho.
No ha de cambiar el mar
si lo llamamos humo.
Llamemos exageración
a la luna.
Llamemos a nunca
todavía.
Dulce Chacón
Cambiemos el nombre
de las cosas,
o mejor,
pongamos un nombre
cada día.
Los nombres distraen mucho.
No ha de cambiar el mar
si lo llamamos humo.
Llamemos exageración
a la luna.
Llamemos a nunca
todavía.
Dulce Chacón
Do Tempo ao Coração - David Mourão-Ferreira
Do Tempo ao Coração
E volto a murmurar Do cântico de amor
gerado na Suméria às novas europutas
Do muito que me dás ao muito que não dou
mas que sempre conservo entre as coisas mais puras
De uma genebra a mais num bar de Amsterdão
a não perder o pé numa praia da Grécia
De tantas tantas mãos que nos passam pelas mãos
a tão poucas que são as que nunca se esquecem
De ter visto o começo e o fim da Via Ápia
De ter atravessado o muro de Berlim
De outros muros que não aparecem no mapa
De outros muros que só aparecem aqui
ao barro deste céu que te modela os ombros
ao sopro deste céu que te solta o cabelo
ao riso deste céu que vem ao nosso encontro
quando sabe que nós não precisamos dele
Da pertinaz presença E da longevidade
do corvo do chacal do louco do eunuco
ao rouxinol que morre em plena madrugada
à rosa que adormece em caules de um minuto
Do que foi noutro tempo a saúde no campo
à lepra que nos rói a paisagem bucólica
Do tempo ao coração minado pelo cancro
Dos rins ao infinito incubado na cólera
Do tempo ao coração mas com pausa na pele
como «Roma by night» entre dois aviões
como passar o Verão numa vogal aberta
como dizer que não que já não somos dois
Dos rins ao infinito A este que não outro
Ao que rola dos rins Ao que vai rebentar-te
na câmara blindada e nocturna do útero
E nos transfere o fim para um pouco mais tarde
Da curva de entretanto à entrada do poço
De soletrar em mim a ler nas tuas mãos
como é rápido e lento e recto e sinuoso
o percurso que vai do tempo ao coração.
David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética”
E volto a murmurar Do cântico de amor
gerado na Suméria às novas europutas
Do muito que me dás ao muito que não dou
mas que sempre conservo entre as coisas mais puras
De uma genebra a mais num bar de Amsterdão
a não perder o pé numa praia da Grécia
De tantas tantas mãos que nos passam pelas mãos
a tão poucas que são as que nunca se esquecem
De ter visto o começo e o fim da Via Ápia
De ter atravessado o muro de Berlim
De outros muros que não aparecem no mapa
De outros muros que só aparecem aqui
ao barro deste céu que te modela os ombros
ao sopro deste céu que te solta o cabelo
ao riso deste céu que vem ao nosso encontro
quando sabe que nós não precisamos dele
Da pertinaz presença E da longevidade
do corvo do chacal do louco do eunuco
ao rouxinol que morre em plena madrugada
à rosa que adormece em caules de um minuto
Do que foi noutro tempo a saúde no campo
à lepra que nos rói a paisagem bucólica
Do tempo ao coração minado pelo cancro
Dos rins ao infinito incubado na cólera
Do tempo ao coração mas com pausa na pele
como «Roma by night» entre dois aviões
como passar o Verão numa vogal aberta
como dizer que não que já não somos dois
Dos rins ao infinito A este que não outro
Ao que rola dos rins Ao que vai rebentar-te
na câmara blindada e nocturna do útero
E nos transfere o fim para um pouco mais tarde
Da curva de entretanto à entrada do poço
De soletrar em mim a ler nas tuas mãos
como é rápido e lento e recto e sinuoso
o percurso que vai do tempo ao coração.
David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética”
Assinar:
Postagens (Atom)