sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cecilia Meireles - Anjo da guarda

Anjo da guarda

Solidão que outros miram com desprezo,
silêncio que aos demais aflige tanto,
um pensamento na vigília aceso,

um coração que não deseja nada
-esse é o mundo a que chegas, onde a vida,
só do sonho de ser é sustentada.

Debruço-me, e não vejo de que parte
podes ter vindo, nem por que motivo.
E a coragem perdi de perguntar-te.

Deixo-te isento. Não serás cativo
de quem não te quer ver no cativeiro
de enigmas em que voluntária vivo.

Mas não partes; que, cego e sem memória,
por instinto conheces teu caminho,
e vens e ESTÁS, alheio à tua história.

E és como estrela, em séculos movida,
que num lugar do céu foi colocada
por uma simetria não sabida.

cecilia meireles, in mar absoluto e outros poemas

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