domingo, 26 de agosto de 2012

Louis Armstrong - Moon River


Louis Armstrong - Moon River



http://www.youtube.com/watch?v=6UnZNVc5iSw&feature=share

http://www.youtube.com/watch?v=Q7SI7N22k_A


Moon River

Moon river
Wider than a mile
I'm crossing you
In style some day
Oh, dream maker
You heart breaker
Wherever you're goin'
I'm goin' your way

Two drifters
Off to see the world
There's such
A lot of world to see
We're after
The same rainbow's end
Waitin' 'round the bend
My huckleberry friend
Moon river
And me

Moon river
Wider than a mile
I'm crossin' you
In style some day
Oh, dream maker
You heart breaker
Wherever you're goin'
I'm goin' your way

Two drifters
Off to see the world
There's such
A lot of world to see
We're after
That same rainbow's end
Waitin' 'round the bend
My huckleberry friend
Moon river
And me


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Albert Einstein

No meio da confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No meio da dificuldade reside a oportunidade.

Albert Einstein

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pablo Neruda

‎(...) Amor dos meus amores,
terra pura,
quando volte
irei correndo à tua proa
de embarcação terrestre,

e assim navegaremos
confundidos
até que tu me cubras
e eu possa contigo, eternamente,
ser vinho que regressa em cada outono,
pedra de tuas alturas,
onda de teu marinho movimento!

Pablo Neruda, in: Tercer libro de las odas
(tradução Thiago de Mello)




Paraty. 2011.  Fotografia © Leonora Fink


Nada Mais que a Paixão


http://www.youtube.com/watch?v=X5T9wyG8LxQ


Nada Mais que a Paixão



http://www.youtube.com/watch?v=HtV7Ww5q-Pg&feature=share


Nada  Mais  Que  a  Paixão

Egberto Gismonti

Não espere de mim nada mais que a paixão
Não espere nada de mais do meu coração
Que bate, rebate e grita
Geme, chora e se agita
Sambando nas cordas bambas de uma viola vadia
Não espere encontrar numa canção
Nada além de um sonho, nada além de uma ilusão
Talvez, quem sabe, a verdade
A infinita vontade de arrancar
De dentro da noite a barra clara do dia

Saci

Saciologia brasileira (Revista Releitura, junho de 2008, n° 22)

Ensaio publicado na revista Releitura, Junho de 2008, nº 22
Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura

Ensaio em PDF

Página 35 da publicação

Dentre as transformações socioculturais ocorridas no Brasil, como conseqüência da planificação econômica do mundo, o revigoramento do Saci Pererê ganha destaque como elemento de força simbólica local em um sistema dominado pelo senso de obsolescência precoce. Esse fenômeno se expressa em um contexto no qual se percebe um crescimento ressoante da opinião popular e, ao mesmo tempo, uma redução vertiginosa da influência dos tradicionais formadores de opinião.

Enquanto os grandes meios de comunicação amaldiçoam os atributos da brasilidade, produzindo a desagradável sensação de que somos uma gente essencialmente violenta, corrupta e favorável à falsa esperteza, um outro país acontece fora dessa teia de significações escatológicas para reafirmar o poder criativo da metáfora, do lúdico, da afeição, da solidariedade e do sentido coletivo.

Nesse cenário vem eclodindo no seio da sociedade civil um sem-número de esforços para tirar o Saci da garrafa do folclore e devolvê-lo ao cotidiano brasileiro. As manifestações pela revitalização do mais representativo dos mitos nacionais não partiram dos planos de marketing, dos estudos acadêmicos, nem de ações promovidas pelas esferas formais de educação e cultura, embora já contem com a colaboração e o empenho de instâncias públicas e privadas mais abertas aos contra-fenômenos contemporâneos.

Essas manifestações fazem parte da construção espontânea de alternativas ao estilo de vida decadente imposto pelo fundamentalismo de mercado, no qual as escolhas pessoais refletem as exigências sociais do simulacro e não a liberdade e a satisfação plena do viver. No debate do Brasil de dentro estão situados novos territórios para as expressões culturais, independentemente dos saberes autorizados.

O que passa a ter sentido na realidade profunda e original da civilização mestiça em processo de aprimoramento no país não é o que está institucionalizado pelo discurso competente nem pela ideologia da homogeneização, mas o que se auto-evidencia como vivido e experimentado pelas pessoas, o que é compatível com seus desejos, necessidades e amadurecimento pessoal e comunitário. 

O Saci está solto e o mundo do utilitarismo e da individualidade patológica passa a ser atingido por sua força de negação à linearidade das perspectivas da aparência. Ele não foi criado nem remodelado por encomenda. A origem do Saci é o ato imaginativo, a travessura e o espanto como experiência lúdica e mítica. Ele é filho da mata, um fauno concebido na fantasia nativa e negra, que ganhou a contribuição dos brancos, não dos exploradores coloniais, mas dos imigrantes, que foram acolhidos pelo Brasil para serem brasileiros. 

Em 1917, quando o escritor Monteiro Lobato (1882 – 1948) fez uma ampla pesquisa para entender melhor a figura do Saci, ele chamou os interessados no tema de “Sacisólogos”. Em 1982, Gilberto Mendonça Teles, em uma obra descomprometida de qualquer corrente literária e cheia de encantos vocabulares na recriação do fazer poético, lança o sugestivo título “Saciologia

Página 36

Goiana” (Ed. Civilização Brasileira/INL, Rio de Janeiro), em uma clara alusão à presença do espírito lírico e satírico do Saci na sua inspiradora terra natal. 

O estudo, a intuição, o interesse e a satisfação de vivenciar as relações de coexistência entre o real e o imaginário, desenvolvido por crianças, adolescentes, adultos e idosos no redemoinho metafórico do Saci vêm sendo divertidamente chamados de “Saciologia”. O aumento do número de saciólogos se dá curiosamente no momento em que, como ocorreu na passagem do século XIX para o século XX, a resistência da elite brasileira em aceitar a desconcentração de renda e da riqueza guarda assemelhamentos com o período em que a escravidão foi abolida no Brasil sem a devida integração dos escravos à sociedade. 

No capítulo do livro “No Horizonte do Outro”, em que trata da cena analítica no mundo desencantado, a antropóloga Ondina Pena Pereira recorre ao universo da psicanálise para ilustrar o processo de transformação das atitudes e comportamentos resultantes da pressão exagerada da racionalização: 

“Com o que chamamos de progresso da ciência, as forças misteriosas que povoavam o mundo desapareceram sob a força dos cálculos e da técnica. Tudo aquilo que era considerado excepcional no mundo primitivo, foi banido pelos homens modernos, que se empenharam na construção de uma existência onde seres e coisas tornaram-se disponíveis, utilizáveis, consumíveis” (PEREIRA, 2004: 55). 

Associo essa ilustração da cena analítica à presença ativa do Saci na memória coletiva brasileira, ponderando que o espaço do divã é parte de um mundo não subordinado à conduta egocêntrica que permeia o mercantilismo da felicidade. No estilo de vida da massificação e do consumismo, que exaurem as relações entre as pessoas e os recursos naturais do planeta, os indivíduos são apartados dos benefícios das suas relações sociais produzidas no âmbito psíquico e tendem a reagir a esse vazio com a soberba de quem pretensamente não depende de ninguém para gerenciar a lógica da lei do valor em que reduz a própria vida. 

O deslocamento de percepção que houve na modernidade com relação aos nossos medos saiu do plano extraordinário para ser um problema simplesmente real. Pereira lembra que antes as pessoas temiam o sobrenatural e usavam a imaginação a cada momento em que se deparavam com o inusitado, a cada momento em que as impressões familiares desapareciam, dando lugar ao estranhamento. Hoje, ela realça, o grande drama do medo se manifesta na convivência com o outro. 

A exclusão dos mitos populares do convívio social, especialmente nos centros urbanos, afastou das pessoas a possibilidade de exercitar o medo de forma segura e criativa. Para as crianças esse distanciamento pôs a infância cara a cara com o perigo real da violência, sem muitas chances de aprendizado no plano das hipóteses. Meninas e meninos precisam exercitar suas inquietações ante a noção das ameaças reais ou imaginárias para poderem cuidar de suas pulsões e conviver de modo equilibrado com as situações correntes.

A solução de suposta segurança dos ambientes climatizados é melancólica e depressiva. O despertar para a presença do Saci e outros mitos ecológicos nas praças, nos pátios, nos jardins e em todas as áreas verdes das cidades é um ato de iluminação que certamente contribuirá para a quebra do preconceito que a necessidade urbana de afirmação tem nutrido desde a segunda metade do século passado pelas expressões da cultura rural. Além do encanto que carrega em si, o Pererê pode levar as crianças a perceberem que as árvores bebem da mesma água que elas bebem e que as plantas são muito boas no jogo da troca de oxigênio por gás carbônico.

Motivados pelo senso afetivo, pela reabilitação dos laços comunitários, pelo humor, pelo lúdico, pelo enfeitiçamento, pela articulação entre o espanto e a alegria, saciólogos das diversas regiões brasileiras estão realizando a festa do Dia do Saci, no 31 de outubro, mesma data do Halloween estadunidense. Trata-se de uma tática sugerida no Vale do Paraíba pela Sociedade dos Observadores de Saci, Sosaci, para frear o avanço dos mitos de identidade falsificada que estão interferindo negativamente na forma de ver o mundo das crianças e adolescentes brasileiros.

A festa do saci diferencia-se do Halloween no plano do consumismo por não apresentar a busca por qualquer modelo hegemônico e sim pela integração com diferenciação. A intensificação da presença do Saci em nossas vidas tem o sentido de popularização e não de massificação. Não há fórmula para uma festa de saci. As maneiras da festança devem atender as motivações e as peculiaridades de cada grupo, comunidade e região, guardando, inclusive, e principalmente, a relação que o Pererê tem com mitos locais. Essa particularidade torna a festa do saci cheia de misteriosas variantes.

Com a disseminação da festa do saci é normal que mercado faça uso do evento para vender serviços e produtos. Isso já ocorreu no início do século passado, depois da popularização dada ao mito por Monteiro Lobato, com o uso da figura do Saci em anúncios da máquina de escrever “Remington”, chocolates “Lacta” e até de loja de louças, com gravuras de saci tentando quebrar as “resistentes” peças de arte da tradicional loja paulistana Casa Freire, conforme aparece nas páginas de abertura e finais da edição fac-similar (1998) da publicação lobatiana de 1918. Não sendo o saci um diabinho politicamente correto, sua festa será sempre única.

Página 37

O diálogo entre o pensamento habitual e o mítico só é possível por ser a festa do saci um ritual de inversão, uma situação de vivência na qual os elementos significantes interagem e o conceito de verdade é embaralhado no redemoinho simbólico que o giroscópio do mito possibilita. Por isso a festa do saci é um acontecimento de imersão no humano em sua dimensão mítica, um evento de interrelação entre o ser e as fantasias que dialogam com a sua cultura.

A figura do Saci transita no campo cosmomórfico, cumprindo a função de catalisador para o fluxo da experiência fora das atitudes regulares do cotidiano. Com a festa do saci as pessoas se apropriam de um espaço de acolhimento da imaginação e experienciam o mito e não apenas sabem sobre ele, como ocorre normalmente no espaço de conhecimento do folclore.

O ano de 2007, nove décadas depois do surgimento da “sacisologia”, foi marcado pelo reconhecimento por parte da imprensa convencional da existência do Dia do Saci. Até no caderno Folhinha, da Folha de São Paulo do sábado 27/10/2007, talvez dos jornais sudestinos o mais resistente aos atributos da brasilidade, o Saci ganhou destaque. De uma maneira ardilosa, mas ganhou. Para provar que as “bruxas levam a melhor” nas festas para a meninada, o jornal paulistano fez uma enquete com cinqüenta escolas e as bruxas ganharam de 27 a 4. O Saci é exposto como derrotado, mas na verdade já contar com quatro escolas tendo acabado de entrar na disputa é na verdade um bom sinal de vitalidade.

No caderno Estadinho, do jornal O Estado de São Paulo, também do dia 27/10/2007, a capa foi do Dia do Saci. As bruxas do Halloween ficaram com uma chamada menor. De um modo geral a mídia começou a reconhecer o fenômeno e é isso o que interessa avaliar. Em uma história em quadrinhos sobre folclore, publicada na edição nº 33 da revista da loja de brinquedos Ri Happy, os mitos brasileiros chegam a lamentar o fato de não haver no Brasil uma festa com as dimensões do Halloween norte-americano. A revista Recreio, publicação da Editora Abril para o público infanto-juvenil, chegou a publicar na edição nº 398 o poema Halloween à Brasileira de Tatiana Belinky, no qual a escritora defende o Dia do Saci:

“(...) O Saci, que é bem brasileiro / Desbanca qualquer estrangeiro: / Todo original / Ele é sem igual - / O Saci, ele é um bagunceiro! (...) Ele fuma o seu pito e ri, / Ele apronta aqui e ali! / Ninguém o esquece / Porque ele merece / O Dia Nacional do Saci”(BELINKY, 2007: 20)

No Ceará, mais do que fazer o dia 31 de outubro todo de festa e debate com o Saci e sobre o Saci a Secretaria da Cultura declarou a data como evento comemorativo do calendário oficial do Estado. A Câmara Municipal de Fortaleza, a exemplo de outras cidades, criou o Dia do Saci no município, com votação simbolicamente realizada no dia 31 de outubro de 2007. A participação do Saci, no entanto, inclina-se a outras datas da vida social e cultural brasileira, tais como o Carnaval, a Semana do Meio Ambiente, o próprio Dia do Folclore, o Dia das Crianças e a Semana da Consciência Negra.

No capítulo “A Ideologia como Sistema Cultural”, do livro de artigos do antropólogo Clifford Geertz, está bem clara a definição de que a configuração do nosso pensamento é construída e manipulada pelos sistemas simbólicos que são empregados como modelos de outros sistemas. Esse entendimento reforça a tática de criação do Dia do Saci na mesma data do Halloween. A oportunidade de aproximação do Saci, de interatuar com ele, repercute como fator de energização política no comportamento brasileiro:

“Os sistemas de símbolos chamados cognitivos têm uma coisa em comum: eles são fontes extrínsecas de informações em termos das quais a vida humana pode ser padronizada – mecanismos extrapessoais para a percepção, compreensão, julgamento e manipulação do mundo. Os padrões culturais – religioso, filosófico, estético, científico, ideológico – são programas: eles fornecem um gabarito ou diagrama para a organização dos processos sociais e psicológicos, de forma semelhante aos sistemas genéticos que fornecem tal gabarito para a organização dos processos orgânicos”. (GEERTZ, 1989: 123).

O autor reforça que as referências simbólicas são necessárias para combinar os estados e processos simbólicos com os estados e processos do mundo mais amplo, considerando que o comportamento humano é extremamente plástico e guiado, predominantemente, por gabaritos culturais que, na organização dos processos social e psicológico desempenham papel fundamental nas circunstâncias onde falta o tipo de partículas de informações que eles contêm.

Página 38

A Saciologia é uma espécie de ciência intuitiva das gentes brasileiras que têm na figura do Saci um importante emblema de semelhança no múltiplo, a proporcionar-lhes celebração de pertinência. Poder ver o invisível, aceitar e enunciar a potencialidade da sua ação está no nosso jeito de nos encontrarmos como nação. A substância psíquica formada pela imaginação dinâmica aplicada à vida cotidiana desempenha um papel decisivo na reconfiguração do nosso sentido de destino.

O potencial de catálise do Saci Pererê permite uma nova dialética entre nacionalismo e xenofobia, ante as tensões sócio-psicológicas do jogo de construção e manipulação dos sistemas de símbolos. A reversão das estruturas simbólicas identificada na revitalização do Saci Pererê, como anti-herói da negação do consumismo e da massificação, recomenda respeito à abordagem empírica que circunda as questões-chave da atualidade e reformula o debate em um plano que privilegia o olhar da sociedade civil.



Referências 

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. LTC, Rio de Janeiro, 1989. 

LOBATO, Monteiro (org). O Sacy-Pererê – Resultado de um Inquérito. Edição fac-similar da obra de 1918, Gráfica JB, Rio de Janeiro, 1998. 

PEREIRA, Ondina Pena. No horizonte do outro. Editora UNIVERSA – UCB, Brasília,

Augusto Cury

Brigar, gritar, impor idéias, nem de longe significa ter um EU forte, mas, sim, frágil. Falar o que vem à mente, dizer sempre a verdade, nem sempre é expressão de um Eu maduro, mas, sim, de quem não tem autocontrole. Um EU forte e maduro arquiteta sua ansiedade, protege quem ama, pede desculpas sem medo, aponta primeiro o dedo para si antes de falar dos erros do outro, repensa sua história, exige menos e se doa mais, não tem necessidade neurótica de mudar quem está ao seu redor, reconhece, portanto, todas as letras do alfabeto do amor inteligente.

Augusto Cury

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Nise da Silveira - Contos de Fada


Contos de Fada

Imagem: Maxfield Parrish – A Bela Adormecida

Por Nise da Silveira

Os contos de fada, do mesmo modo que os sonhos, são representações de acontecimentos psíquicos. Mas, enquanto os sonhos apresentam-se sobrecarregados de fatores de natureza pessoal, os contos de fada encenam os dramas da alma com materiais pertencentes em comum a todos os homens. Eles nos revelam esses dramas na sua rude ossatura, despojados dos múltiplos acessórios individuais que entram na composição dos sonhos.

Os contos de fada têm origem nas camadas profundas do inconsciente, comuns à psique de todos os humanos. Pertencem ao mundo arquetípico. Por isto seus temas reaparecem de maneira tão evidente e pura nos contos de países os mais distantes, em épocas as mais diferentes, com um mínimo de variações. Este é o motivo porque os contos de fada interessam à psicologia analítica.

Pesquisadores modernos decifraram contos, velhos de 4.000 anos, gravados pelos babilônios, hititas, cananeus, e mesmo alguns afirmam haver encontrado vestígios de certos temas, ainda hoje preservados em estórias, que remontam a 25.000 anos antes de Cristo.

Os homens sempre gostaram de estórias maravilhosas. Não só as crianças, mas também os adultos. É salutar ouvir a narração de contos de fada e ler velhos mitos. “Mitos e contos de fada, diz Jung, dão expressão a processos inconscientes e sua narração provoca a revitalização desses processos, reestabelecendo assim a conexão entre consciente e inconsciente”.

Não se trata de acreditar nos feitos heróicos e nos encantamentos que as estórias descrevem. Essas coisas não são verdades objetivas mas, sim, são verdades subjetivas narradas na linguagem dos símbolos. Estórias e mitos não passarão através do crivo das exigências racionais, evidentemente. Contudo isso não impede que atinjam outras faixas para além do consciente. Obscuramente o homem pressentirá que ali se espelham acontecimentos em desdobramento no seu próprio e mais profundo íntimo. São essas ressonâncias que fazem o eterno fascínio dos contos de fada.

Vejamos um exemplo de interpretação de conto de fada.

A Bela Adormecida – (resumo)

Era uma vez um rei e uma rainha que sempre se lamentavam por não terem filhos. Certo dia, quando a rainha estava tomando banho, uma rã saltou de dentro d’água e lhe disse: «Vosso maior desejo será satisfeito. Daqui a menos de um ano V.M. terá uma filha».

Aconteceu segundo a rã anunciou. Uma menina lindíssima nasceu. Grandes comemorações foram organizadas, inclusive um banquete para o qual o rei convidou seus parentes, cortesãos e doze fadas. Mas naquela região habitavam treze fadas e ele dispunha apenas de uma dúzia de pratos de ouro. Por isso uma das fadas não foi convidada.

Depois do banquete, 3S fadas, uma a uma, ofereceram dons à princesinha: beleza, bondade, riqueza, etc. – Apenas a 11a fada havia ofertado sua dádiva, a 13a (a que não fora convidada) entrou no castelo furiosa e disse em alta voz: «no dia em que completar 15 anos a princesa picará o dedo no fuso de uma roca e morrerá». Todos ficaram aterrorizados. A 12a fada, porém, não havia feito ainda o seu dom. Ela não tinha poder para anular o voto da fada má; a única coisa que lhe seria possível era atenuá-lo. Disse então: «Ao picar o dedo no fuso, a princesa não morrerá, mas cairá num sono profundo que durará cem anos». 0 rei ordenou que todas as rocas com seus lusos, fossem queimados. Precaução inútil.

No dia em que completava 15 anos, percorrendo o castelo, a princesa notou, pela primeira vez, uma estreita escada em caracol que conduzia a uma torre aparentemente inabitada. Subiu e viu-se diante de uma mulher muito velha que fiava. Que faz a senhora? perguntou a princesa. Estou fiando, respondeu a velha. Que coisa mais engraçada, disse a jovem, nunca vi isto. E tomando o fuso nas mãos, tentou fiar. No primeiro movimento que fez, picou o dedo. Instantaneamente adormeceu. Sono profundo estendeu-se ao mesmo tempo sobre todos os habitantes do castelo: rei, rainha, cortesãos e pagens, servos, animais e até o fogo da lareira. Então uma alta e espessa sebe de espinhos rapidamente ergueu-se, cercando o castelo e ocultando-o.

Muito se falava da bela princesa adormecida naquele estranho bosque. Príncipes e cavalheiros cada ano ali tentaram penetrar, mas os espinhos os detinham como se fossem mãos e, enredados no seu entrançado, eles pereciam.

Exatamente cem anos depois um príncipe, ouvindo contar aquelas coisas, decidiu atravessar a sebe de espinhos apesar de todos os conselhos contrários. Apenas o príncipe aproximou-se da sebe, os espinhos abriram-lhe caminho para de novo fecharam-se após sua passagem. 0 príncipe foi andando e vendo cavalos, cães, pombos, servos, cortesãos, o rei e a rainha, mergulhados em sono profundo. Por fim chegou à torre onde estava a princesa. Achou-a linda e beijou-a. Ela acordou sorrindo. Desceram juntos e todos os seres adormecidos despertaram simultaneamente. 0 rei e a rainha, cortesãos, pagens, criados, bichos, o fogo da lareira. A bela princesa e o príncipe casaram-se e foram muito felizes.

O rei e a rainha não tinham filhos e entristeciam-se por não deixarem sucessores ao trono. Mas eis que uma rã anuncia à rainha o acontecimento que trará nova vida àquele reino estagnado: Nascerá uma princesa, diz o pequeno animal.

É freqüente que um período de esterilidade preceda o nascimento dos heróis, tal como aridez e depressão costumam anteceder fases de intensa atividade do inconsciente. Muitos artistas criadores já descreveram este fenômeno.

A rã é um animal que tem múltiplas conexões com a fertilidade. 0 coaxar das rãs anuncia a primavera, a exuberância da natureza, o desejo sexual, tanto assim que esses animais, nos tempos antigos, eram usados como amuletos para provocar amor e fecundidade. No nosso conto, a rã surgindo na água do banho, poderá mesmo ser subentendida como o órgão masculino que fecunda a rainha.

A rã, diz Jung, entre os animais de sangue frio é aquele que pelo aspecto de seu corpo maior semelhança apresenta com a forma humana. Daí exprimir, no simbolismo dos sonhos, impulsos do inconsciente possuidores de forte carga energética que tendem a tornarem-se conscientes. Assim, do fundo do inconsciente, algo importante vem à luz. Nasce a heroina do conto.

Uma fada deixa de ser convidada para o banquete comemorativo do feliz acontecimento. Este é um motivo recurrente em muitos contos. Se os deuses e deusas, se as fadas, representam conteúdos do inconsciente coletivo e, se um deles foi esquecido ou, por causas diferentes, não foi tomado em consideração, isso significa que surgirão desarmonias e pertubações dentro do sistema psíquico. Todo o sistema sofre em seu conjunto quando um de seus núcleos vitais é desatendido. A fada omitida surge de repente e transtorna a festa, lançando sobre a princesa terrível maldição. Ressentida, ferida em seus sentimentos, na sua vaidade e talvez também no seu desejo de ser aceita e amada, a fada encoleriza-se violentamente. A pequena princesa morreria aos 15 anos. Seria de fato uma tremenda vingança. Morta a princesa, apenas púbere, ela regrediria ao mundo subterrâneo, ao mundo das grandes matriarcas. Não poderia ocorrer seu encontro com o homem e aquele reino estagnado em breve estaria extinto. Mau humor, cólera, decorrentes de decepções sentimentais, são freqüentes nas mulheres. (Tudo quanto a mulher ressentida pode arquitetar como vingança foi modernamente focalizado pelo dramaturgo F. Durrematt nas peças A Visita da Velha Senhora e Os Físicos). Outra fada atenua a maldição, transformando a morte em sono. Sono e Morte – Hypnos e Thanatos – eram venerados como deuses irmãos. 0 sono é uma morte transitória e a morte é o sono eterno. Na interpretação do conto, a morte seria a completa repressão do conteúdo do inconsciente representado pela princesa, enquanto o sono durante um século indica que um longo período de repressão decorrerá ainda antes que este conteúdo possa atingir a consciência. Que aspecto da natureza feminina tem sido mais reprimido na nossa civilização cristã? Sem dúvida o da sexualidade. Muito mais que sobre o homem, pesam sobre a mulher as sanções que obrigam a repressão do instinto sexual. Note-se que a heroina do conto adormece na data em que completa 15 anos, marco na vida de toda jovem indicativo de que ela se tornou apta para a procriação.

No dia de seu aniversário a princesa descobre a velha fiandeira cuia existência havia sido esquecida (tal como a 13a fada com quem se identifica), motivo porque sua roca não fora destruída segundo as ordens do rei. E apenas segura o fuso, fere o dedo. 0 ato de fiar está estreitamente vinculado à feminilidade. É atributo das deusas mães que tecem a trama da vida, o destino, que sem cessar agrupam e organizam os elementos da natureza. 0 fuso, pela sua forma, tem características fálicas evidentes. Está sempre associado à roca como parte indispensável da atividade feminina de tecer novas vidas, tecer “os tecidos” do corpo (Neumann).

Iniciar-se na arte de fiar significaria simbolicamente iniciar-se na vida sexual. A velha feiticeira instruiria a princesa. Mas esta iniciação desencadeia o castigo. 0 conto reflete, portanto, uma condição coletiva onde não só são negados à mulher direitos elementares em relação à sua vida instintiva, porém mesmo revela conexões entre a sexualidade feminina, o mal e o castigo, bem características da civilização patriarcal e cristã. Esta situação coletiva causa estagnação no desenvolvimento da psique da mulher e produz reações agressivas forjadas pela sua componente masculina, reações que no conto se exprimem pela sebe de espinhos.

Cem anos mais tarde, chega o príncipe e diante dele os espinhos abrem caminho. Não é necessário sustentar luta contra quaisquer obstáculos. Dai a cem anos, num futuro distante, a situação coletiva refletida pelo conto mudará.

Do ponto de vista da psicologia masculina o conto nos revela que o príncipe, decidindo-se a ir em busca da bela adormecida, apesar dos conselhos contrários, rompe os laços familiares que o prendiam. Chegou o tempo de libertar a cativa, a mulher desconhecida, do sono em que a Mãe Terrível a mantinha prisioneira. Assim fazendo ele está libertando sua própria contra parte feminina, o complemento de sua personalidade. Unindo-se à mulher que ele libertou, o herói cumpre o requisito necessário para completar sua personalidade e estabelecer seu próprio reino. (Na interpretação deste conto, baseamo-nos principalmente em notas de conferências da dra. M. L. von Franz, feitos no Instituto C. G. Jung em Zurique). Dra. M.L. von Franz depois de estudar durante vários anos os contos de fada das mais distantes proveniências, chegou à conclusão de que todos esses contos descrevem o mesmo tema, sob múltiplas variações; o mesmo acontecimento fundamental, isto é, a busca da totalidade psíquica. Os diferentes contos dão ênfase maior ou menor às diversas etapas desse processo em constante desdobramento.

Fonte: CooJornal – Revista Rio Total

Peter Gabriel - Here Comes The Flood

Peter Gabriel - Here Comes The Flood

http://www.youtube.com/watch?v=Ww9JS8dJ9fY&feature=share


When the night shows
The signals grow on radios
All the strange things
They come and go, as early warnings
Stranded starfish have no place to hide
Still waiting for the swollen Easter tide
There's no point in direction we cannot
Even choose a side.
I took the old track
The hollow shoulder, across the waters
On the tall cliffs
They were getting older, sons and daughters
The jaded underworld was riding high
Waves of steel hurled metal at the sky
And as the nail sunk in the cloud, the rain
Was warm and soaked the crowd.
Lord, here comes the flood
Here we'll say goodbye to flesh and blood
If again the seas are silent
In any still alive
It'll be those who gave their island to survive
Drink up, dreamers, you're running dry.
When the flood calls
You have no home, you have no walls
In the thunder crash
You're a thousand minds, within a flash
Don't be afraid to cry at what you see
The actors gone, there's only you and me
If we break before the dawn
They'll use up what we used to be.
Lord, here comes the flood
We'll say goodbye to flesh and blood
If again the seas are silent
In any still alive
It'll be those who gave their island to survive
Drink up, dreamers, you're running dry.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

João Gilberto - 16 - Este Seu Olhar


João Gilberto - 16 - Este Seu Olhar



http://www.youtube.com/watch?v=MVfgS4zPp9I&feature=player_embedded#!

Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso
Acreditar...


Doce é sonhar
É pensar que você
Gosta de mim
Como eu de você...

Mas a ilusão
Quando se desfaz
Dói no coração
De quem sonhou
Sonhou demais
Ah! Se eu pudesse entender
O que dizem os seus olhos...












sábado, 18 de agosto de 2012

Voce Vai Ver - Rosa Passos


Voce Vai Ver - Rosa Passos



http://www.youtube.com/watch?v=TqoR9xZGWco&feature=share


Você vai ver
Você vai implorar me pedir pra voltar
E eu vou dizer
Dessa vez não vai dar
Eu fui gostar de você
Dei carinho, amor pra valer
Dei tanto amor
Mas você queria só prazer
Você zombou
E brincou com as coisas mais serias que eu fiz
Quando eu tentei
Com você ser feliz
Era tão forte a ilusão
Que prendia o meu coração
Você matou a ilusão
Libertou meu coração
Hoje é você que vai ter de chorar
Você vai ver



KASHMIR chords -Jimmy Page, Jack White, & Edge


KASHMIR chords - Jimmy Page, Jack White and Edge



http://www.youtube.com/watch?v=ODidAgdL40Y&feature=related

Harry Connick Jr. - Recipe For Love


Recipe For Love - Harry Connick, Jr. 



A little bit of me and a whole lot of you 
Add a dash of starlight and a dozen roses, too 
Then let it rise for a hundred years or two 
And that's the recipe for making love 

It doesn't need sugar 'cause it's already sweet 
It doesn't need an oven 'cause it's got a lot of heat 
Just add a dash of kisses to make it all complete 
And that's the recipe for making love 
[ Lyrics from: http://www.lyricsfreak.com/h/harry+connick+jr/recipe+for+love_20064470.html ] 
And if you've made it right you'll know it 
It's not like anything you've made before 
And if you've made it wrong you'll know it 
'cause it won't keep you coming back for more 

I didn't get it from my grandma's book upon the shelf 
I didn't get it from a magical and culinary elf 
No, a little birdie told me you can't make it by yourself 
And that's the recipe for making love


Antoine de Sain't Exupéry

- À noite tu olharás as estrelas. Aquela onde moro é muito pequena, para que eu possa te mostrar. É melhor assim. Minha estrela será para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostará de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E, também, eu te darei um presente.
Ele riu outra vez.
- Ah, meu caro [...] como eu gosto de ouvir esse riso!
- Pois ele é o meu presente...será como a água.
- Que que

res dizer?
- As pessoas vêem estrelas de maneira diferente. Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve...
-Que queres dizer?
- Quando olhares o céu a noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá, estarei rindo; então será para ti, e somente tu, terás estrelas que sabem rir.
E ele riu mais uma vez.
- E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por me ter conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão louco. Será como uma peça que te prego...[...] Serás lindo, sabes?
[...]

Antoine de Sain't Exupéry, excerto de "O Pequeno Principe" veja isto e mais no

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