domingo, 31 de março de 2013

Hélio Pellegrino - Carta

O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. 
Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio.
Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se
percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome.

- de uma carta de Hélio Pellegrino, (in O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, editora Record, 79ª edição, 2005, SP/RJ).

sábado, 30 de março de 2013

Manuel Bandeira

O que eu adoro em ti 
Não é a tua beleza 
A beleza é em nós que existe 
A beleza é um conceito 
E a beleza é triste 
Não é triste em si 
Mas pelo que há nela 
De fragilidade e incerteza 

O que eu adoro em ti 
Não é a tua inteligência 
Não é o teu espírito sutil 
Tão ágil e tão luminoso 
Ave solta no céu matinal da montanha 
Nem é a tua ciência 
Do coração dos homens e das coisas. 

O que eu adoro em ti 
Não é a tua graça musical 
Sucessiva e renovada a cada momento 
Graça aérea como teu próprio momento 
Graça que perturba e que satisfaz 

O que eu adoro em ti 
Não é a mãe que já perdi 
E nem meu pai 

O que eu adoro em tua natureza 
Não é o profundo instinto matinal 
Em teu flanco aberto como uma ferida 
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza. 

O que adoro em ti lastima-me e consola-me: 
O que eu adoro em ti é a vida!


Manuel Bandeira

Jimmy Page - Solo

Jimmy Page - Solo

http://www.youtube.com/watch?v=PgA76eq2RTU


Árvores. 2013. Foto © Leonora Fink

quinta-feira, 28 de março de 2013

Eugênio de Andrade - in Até Amanhã

As palavras
São como um cristal, 
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparados, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
creis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugênio de Andrade, in Até Amanhã


quarta-feira, 27 de março de 2013

Lua - Nova Zelandia


3 Minute MoonRise  - "Full Moon Silhouettes" - Wellington



http://www.youtube.com/watch?v=QYI3_Xu4pMc&feature=share

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen, in OBRA POÉTICA (Ed. Caminho, 2010)

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes 
e calma


Christafari - Taking in the Son


Christafari - Taking in the Son



http://www.youtube.com/watch?v=aTHPVbvdzdI&feature=share


Chorus: I'm taking in the Son
So brilliantly You shine on me
Yes I'm taking in the Son so vibrantly You shine on me.
Shine like stars inna the middle of the night
Reflecting the Son so big and so bright
I say shine like stars inna the middle of the night
Reflecting the sun like the moon
So big and so bright
Inna this crooked and depraved generation
Crooked and depraved generation-ration
Crooked and depraved generation
Crooked and depraved generation-ation.
Bridge: So shine, shine, shine on me
(CHORUS).
I wanna live and move in You
Take You in
All of You (Repeat).
So take it all
The passion and the pain
Take it all
The sun and the rain
Take it all
The power and the fame just take, take, take
Take it all (Repeat)
(CHORUS)
( BRIDGE).
So may your love shine down every day
May your love shine down every day
And this love never fade away
May your love shine down every day (Repeat)
Wo woy, yeah, wo woy, yeah

segunda-feira, 25 de março de 2013

The Strokes - Tap Out


The Strokes - Tap Out



http://www.youtube.com/watch?v=-7PINAYE4z4

They found our city under the water
Gotta get my hands on something new
You don't want to be without this
Something isn't adding up.

Pre Chorus:
Decide my past
Define my life
Don't ask questions
'Cause I don't know why.

Chorus:
Someone
Didn't wanna know their name.
Drifting
You don't wanna know what's going down
Even though I really like your place
Somehow we don't have to know each other's name

They found our city under the water
I began to listen to your eyes
You don't want to live without it
Even others, they'd abide

Pre Chorus:
Decide my past
Define my life
Don't ask questions
'Cause I don't know why.

2 x Chorus:
Someone
Didn't wanna know their name
Drifting
You don't wanna know what's going down
Even though I really like your place
Somehow we don't have to know each other's name

Decide my past
Define my life
Don't ask questions
Cause I don't know why
I don't listen
And I don't speak
Well, it's a talent
I don't know why



domingo, 24 de março de 2013

sábado, 23 de março de 2013

David Gilmour - Sonnet 18 - William Shakespeare

David Gilmour - Sonnet 18 - William Shakespeare

http://www.youtube.com/watch?v=S8Osse7w9fs&feature=share


Shall i compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of may,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.

Tools - Ferramentas

It had long since come to my attention that people of accomplishment rarely sat back and let things happen to them. 
They went out and happened to things.
......................................Leonardo da Vinci


Men have become the tools of their tools.
.......................Henry David Thoreau


The expectations of life depend upon diligence; the mechanic that would perfect his work must first sharpen his tools.
.....................Confucius


Any tool is a weapon if you hold it right.
.................Ani DiFranco


Three things cannot be long hidden: the sun, the moon, and the truth.
..........................Buddha


Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about the former.
..........................Albert Einstein


A sword never kills anybody; it is a tool in the killer's hand.
...................... Lucius Annaeus Seneca



Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Mário Quintana

sexta-feira, 22 de março de 2013

Legião Urbana - Monte Castelo

Monte Castelo, adaptação do Soneto 11 de Luís Vaz de Camões e de Corintios - capítulo 13, versículos 1, 2 e 3. 
http://www.youtube.com/watch?v=NQ-K8QSStOo


Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.