quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VESTÍGIOS - FERREIRA GULLAR

 VESTÍGIOS






Onde o morto deitou-se quando vivo (queimado de césio até a medula) na cama de hospital não resta rastro nem resta mesmo a cama os lençóis que o leito foi desfeito e refeito para outros que ali morreram sem deixar marca (pois tudo a lavanderia apaga, menos a memória que vira cimento ferro alumínio tubos de plásticos) mas como mostrar os vestígios da morte os traços do corpo tornado fósforo? (a chama mortiça do câncer a consumi-los)? Pintando-os na tela? como? Arrastando a cama do hospital para o museu de arte moderna? Expondo o corpo do morto? A cama foi desfeita o cadáver inumado o quarto varrido e desinfetado. É mesmo que nada evocá-lo pintado (na tela) daí porque só restou a SIRON imprimir as marcas das mortes ausente e vil No leito de concreto metáfora brutal da vida que explodiu. (FERREIRA GULLAR)




Publico este poema em homenagem à Iramaia Farah, minha querida prima, guerreira amada.

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