sábado, 28 de janeiro de 2012

Só tinha de ser com você - Elis Regina

Só tinha de ser com você - Elis Regina

http://www.youtube.com/watch?v=VONywcxEQqA&feature=share


É,
Só eu sei
Quanto amor
Eu guardei
Sem saber
Que era só
Pra você.
É, só tinha de ser com você,
Havia de ser pra você,
Senão era mais uma dor,
Senão não seria o amor,
Aquele que a gente não vê,
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você.
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você.
É, você que é feito de azul,
Me deixa morar nesse azul,
Me deixa encontrar minha paz,
Você que é bonito demais,
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
É, você que é feito de azul,
Me deixa morar nesse azul,
Me deixa encontrar minha paz,
Você que é bonito demais,
Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
Eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
Eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim.
Eu sempre fui só de você,
Você sempre foi só de mim


Fernando Pessoa - Pensamento

A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções.


Fernando Pessoa

Ana Hatherly - Poesia

O artista, o poeta, o escritor, os que perguntam: todos são caçadores de simulacros, incansáveis calculadores de improbabilidades. Pombas ou abutres, frágeis canários ou escondidos melros, raspam, rasgam, rompem, sempre roendo as suas próprias garras. O invisível que há neles então emerge.

Ana Hatherly 




Ana Hatherly - Poesia

A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se

O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita

O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende

E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta
Ana Hatherly 

Lenine - O Que é Bonito?

Lenine - O Que é Bonito?


http://www.youtube.com/watch?v=gGcM4TfJdco&feature=share



O que é bonito
É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça
O que é bonito...


O Bôto - Tom Jobim e Jararaca

O Bôto (Tom Jobim e Jararaca)http://www.youtube.com/watch?v=nCAA2fEHaa4&feature=share 


Na praia de dentro tem areia 
Na praia de fora tem o mar 
Um bôto casado com sereia 
Navega num rio pelo mar 

O corpo de um bicho deu na praia 
E a alma perdida quer voltar 
Caranguejo conversa com arraia 
Marcando a viagem pelo ar 

Ainda ontem vim de lá do Pilar 
Ainda ontem vim de lá do Pilar 
Já tô com vontade de ir por aí 

Ontem vim de lá do Pilar 
Ontem vim de lá do Pilar 
Com vontade de ir por aí 

Na ilha deserta o sol desmaia 
Do alto do morro vê-se o mar 
Papagaio discute com jandaia 
Se o homem foi feito pra voar 

Cristina, Cristina 
Cristina, Cristina 
Desperta, desperta 
Desperta, desperta 
Vem cá 

Inhambu cantou lá na floresta 
E o velho jereba fêz-se ao ar 
Sapo querendo entrar na festa 
Viola pesada pra voar 

Ainda ontem etc... 
Ontem vim etc... 

Camiranga urubu mestre do vento 
Urubu caçador mestre do ar 
Urutau cantando num lamento 
Pra lua redonda navegar 

Ainda ontem etc... 
Ontem vim etc... 

ah - ah 

Na enseada negra vista em sonho 
Dorme um veleiro sobre o mar 
No espelho das aguas refletido 
Navega um veleiro pelo ar




Lewis Carrol - Jabberwocky

poema "nonsense" 

"Jabberwocky"

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought--
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! and through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

"And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!"
He chortled in his joy.

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,

And the mome raths outgrabe.



A Penélope do Pano Verde (mini-crônica de Alma Welt) - por Guilherme de Faria

Penélope e os pretendentes - de John William Waterhouse








































A Penélope do Pano Verde (mini-crônica de Alma Welt)

Uma das mais marcantes recordações da minha infância foi o retorno de meu irmão Rodo, que fora colocado num Internato por vários anos para separar-nos depois do nosso flagrante pela Açoriana, nossa mãe, nós dois nuzinhos sob a macieira do pomar. Quando fomos esperá-lo na estação, o trem chegando a resfolegar e a silvar, eu dava pulinhos e batia palmas de excitação. Quando a máquina parou em meio a todo aquele vapor e as portas dos vagões se abriram, avistei meu irmão, guri magnífico, que me pareceu mais belo que nunca. Corri em sua direção e nos abraçamos tão forte que a Mutti e Matilde tiveram que nos apartar, puxando-nos cada um para um lado. Eu estava decidida a nunca mais deixá-lo partir, mesmo sem saber como...
Entretanto, eu não sabia que a semente da separação já estava plantada, e não fora a simples distância: Rodo aprendera o jogo de pôquer na escola, com meninos mais velhos. No caminho de volta, na charrete com Galdério, ele tirou do bolso um maço de cartas de baralho e nos mostrou com elas sua nova habilidade de ilusionista. Eu, encantada, não sabia o que me esperava bem lá para frente, a pequena Penélope do pano verde, que eu me tornaria um dia, e novamente por tantos anos... (Alma Welt)

Adélia Prado

Esconder-se no porão, de vez em quando, é necessidade vital. Precisamos de silêncio e solidão, e, não, apenas os poetas. Senão, corremos o perigo de nos esvairmos em som, fúria e esterilidade. O campo para que a palavra se instale para o autor e para o leitor é o campo do silêncio e da audição.


Adélia Prado

Cora Coralina - Texto

Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.
Creio na força imanente
que vai gerando a família humana,
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana,
na superação dos erros
e angústias do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher tudo fácil.
Antes acreditar do que duvidar.

Cora Coralina, 1983.

Coleridge, traduzido por Fernando Pessoa

Eram amigos na mocidade;
Mas linguas vis ferem a verdade
E só do céu da constância a chama, 
E a juventude é vaidosa, e dura
A vida. O irar-se contra quem se ama
Cai sobre o espírito como um loucura...
De alto desdém ambos eles falaram,
Cada um 'aquele que mais amou,
E para sempre se separam!
Mas nenhum deles outro encontrou
Que lhe aliviasse a alma entristecida;
Ficaram à parte sondando a ferida.
Sós, quais rochedos; o mar sombrio,
Somente hoje entre eles mora;
Mas não há raio, calor nem frio
Que possa de todo apagar agora
Sinais daquilo que foi outrora.



Coleridge, traduzido por Fernando Pessoa

Elis Regina - Atrás da Porta

Elis Regina - Atrás da Porta


http://www.youtube.com/watch?v=02VJ-Y1IXzI&feature=player_embedded#at=105




Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito (Nos teus pelos)*
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...



Elis Regina
Chico Buarque




sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pablo Neruda - Poesia

AQUELLA guerra! El tiempo
un año y otro y otro
deja caer como si fueran tierra
para enterrar
aquello
que no quiere morir: claveles,
agua,
cielo,
la España, a cuya puerta
toqué, para que abrieran,
entonces, allá lejos,
y una rama cristalina
me acogió en el estío
dándome sombra y claridad,
frescura
de antigua luz que corre
desgranada
en el canto:
de antiguo canto fresco
que solicita
nueva
boca para cantarlo.
Y allí llegué para cumplir mi canto.
Ya he cantado y contado
lo que con manos llenas me dio España,
y lo que me robó con agonía,
lo que de un rato a otro
me quitó de la vida
sin dejar en el hueco
más que llanto,
llanto del viento en una cueva amarga,
llanto de sangre sobre la memoria.

Aquella guerra! No faltó la luz
ni la verdad,
no hizo falta la dicha sino el pan,
estuvo allí el amor, pero no los carbones:
había hombre, frente, ojos, valor
para la más acribillada gesta
y caían las manos como espigas cortadas
sin que se conociera la derrota,
esto es, había poder de hombre y de alma,
pero no había fusiles
y ahora les pregunto
después de tanto olvido:
qué hacer? qué hacer? qué hacer?

Respóndanme, callados,
ebrios de aquel silencio, soñadores
de aquella falsa paz y falso sueño,
qué hacer con sólo cólera en las cejas?
con sólo puños, poesía, pájaros,
razon, dolor, qué hacer con las palomas?
qué hacer con la pureza y con la ira
si delante de ti se te desgrana
el racimo del mundo
y ya la muerte
ocupa
la mesa
el lecho
la plaza
el teatro
la casa vecina
y blindada se acerca desde Albacete y Soria,
por costa y páramo, por ciudad y río,
calle por calle,
y llega,
y no hay sino la piel para pelearle,
no hay sino las banderas y los puños
y el triste honor ensangrentado
con los pies rotos,
entre polvo y piedra,
por el duro camino catalán
bajo las balas últimas
caminando
ay! hermanos valientes, al destierro!

PABLO NERUDA