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sábado, 1 de outubro de 2011

Limites - Jorge Luis Borges


Límites, por Jorge Luis Borges

DE ESTAS CALLES que ahondan el poniente,
una habrá (no sé cuál) que he recorrido
ya por última vez, indiferente
y sin adivinarlo, sometido

A Quién prefija omnipotentes normas
y una secreta y rígida medida
a las sombras, los sueños y las formas
que destejen y tejen esta vida.

Si para todo hay término y hay tasa
y última vez y nunca más y olvido
¿quién nos dirá de quién, en esta casa,
sin saberlo, nos hemos despedido?

Tras el cristal ya gris la noche cesa
y del alto de libros que una trunca
sombra dilata por la vaga mesa,
alguno habrá que no leeremos nunca.

Hay en el Sur más de un portón gastado
con sus jarrones de mampostería
y tunas, que a mi paso está vedado
como si fuera una litografía.

Para siempre cerraste alguna puerta
y hay un espejo que te aguarda en vano;
la encrucijada te parece abierta
y la vigila, cuadrifronte, Jano.

Hay, entre todas tus memorias, una
que se ha perdido irreparablemente;
no te verán bajar a aquella fuente
ni el blanco sol ni la amarilla luna.

No volverá tu voz a lo que el persa
dijo en su lengua de aves y de rosas,
cuando al ocaso, ante la luz dispersa,
quieras decir inolvidables cosas.

¿Y el incesante Ródano y el lago,
todo ese ayer sobre el cual hoy me inclino?
Tan perdido estará como Cartago
que con fuego y con sal borró el latino.

Creo en el alba oír un atareado
rumor de multitudes que se alejan;
son lo que me ha querido y olvidado;
espacio y tiempo y Borges ya me dejan


Limits

Of all the streets that blur in to the sunset,
There must be one (which, I am not sure)
That I by now have walked for the last time
Without guessing it, the pawn of that Someone

Who fixes in advance omnipotent laws,
Sets up a secret and unwavering scale
for all the shadows, dreams, and forms
Woven into the texture of this life.

If there is a limit to all things and a measure
And a last time and nothing more and forgetfulness,
Who will tell us to whom in this house
We without knowing it have said farewell?

Through the dawning window night withdraws
And among the stacked books which throw
Irregular shadows on the dim table,
There must be one which I will never read.

There is in the South more than one worn gate,
With its cement urns and planted cactus,
Which is already forbidden to my entry,
Inaccessible, as in a lithograph.

There is a door you have closed forever
And some mirror is expecting you in vain;
To you the crossroads seem wide open,
Yet watching you, four-faced, is a Janus.

There is among all your memories one
Which has now been lost beyond recall.
You will not be seen going down to that fountain
Neither by white sun nor by yellow moon.

You will never recapture what the Persian
Said in his language woven with birds and roses,
When, in the sunset, before the light disperses,
You wish to give words to unforgettable things.

And the steadily flowing Rhone and the lake,
All that vast yesterday over which today I bend?
They will be as lost as Carthage,
Scourged by the Romans with fire and salt.

At dawn I seem to hear the turbulent
Murmur of crowds milling and fading away;
They are all I have been loved by, forgotten by;
Space, time, and Borges now are leaving me.



Jorge Luis Borges

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O sonho não deve passar de uma noite - Jorge Luis Borges

http://www.youtube.com/watch?v=46z-A_RvE1g


Jorge Luis Borges
"Penso a leitura como um ato criativo. Porém, repito, a emoção é necessária: sem emoção não se pode escrever. O importante é sonhar e ser sincero com o sonho quando se escreve, ou seja, somente contar fábulas nas quais se acredita. Isto viria a ser a sinceridade literária, e o único dever do escritor: ser fiel aos seus sonhos, não às meras circunstâncias". 


O sonho não deve passar de uma noite - Jorge Luis Borges

Um camarada trabalhava há 30 anos numa fábrica, ele saía da fábrica todo dia para encontrar os amigos, ir ao cinema, encontrar mulheres… Ia pra casa. Fazia isso todo dia.
Há 30 anos…


Um dia ele faz tudo isso, chega em casa, dorme e tem um sonho. Acordou, não ligou e foi trabalhar, fez tudo o que tinha para fazer, voltou, foi pra casa, dormiu e teve o mesmo sonho.
Era uma nebulosa que estava se transformando num coração e ele queria ver até onde ia esse coração…


A formação de um peito juvenil… Ele acordou. Foi trabalhar. Já não conversou tanto com as pessoas quando saiu do emprego pra ir pra casa. Dormiu e sonhou o mesmo sonho.


Então aparece o peito de um rapaz, a perna de um rapaz o braço de um rapaz… Ele acordou. Foi trabalhar... Saiu correndo do emprego pra chegar em casa e dormir… O sonho continuava, tinha o sexo de um rapaz, a cara de um rapaz.. Ele acordou.


Foi trabalhar, pediu pra sair mais cedo, era um grande funcionário, permitiram, foi correndo pra casa… ai o garoto falou e ele acordou.


Foi trabalhar e pediu pra trabalhar só de manha. Começou a conversar com o rapaz… Então pediu demissão da fábrica pra só dormir e sonhar.. E ficou mostrando as ruas e as mulheres… pro rapaz... Até que um dia o rapaz falou assim:


-‘eu tenho uma namorada, você sabe, eu fui a casa dos pais dela me aceitaram como noivo dela e querem que eu case com ela, mas eles querem conhecer minha família…você pode me dizer quem é a minha familia?’
No sonho ele disse:


- pra dizer quem é a sua família eu vou ter que acordar e procurar saber qual é a minha.
Acordou e começou a procurar.. Quando ele percebeu que ele também era o sonho de um outro.”


Jorge Luis Borges

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Jorge Luis Borges

Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti, mas viver sem amor acho impossível.
Jorge Luis Borges

terça-feira, 5 de abril de 2011

Jorge Luis Borges - Para uma versão do i ching

Nosso futuro é tão irrevogável
Quanto o rígido ontem. Não há nada
Que não seja uma letra calada
Da eterna escritura indecifrável
Cujo livro é o tempo. Quem se demora
Longe de casa já voltou. A vida
É a senda futura e percorrida.
Nada nos diz adeus. Nada vai embora.
Não te rendas. A masmorra é escura,
A firme trama é de incessante ferro,
Porém em algum canto de teu encerro
Pode haver um descuido, a rachadura.
O caminho é fatal como a seta,
Mas Deus está à espreita entre a greta.

Jorge Luis Borges

John Cage 4'33"


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Jorge Luis Borges - Metáforas d'as mil e uma noites

Jorge Luis Borges - Metáforas d'as mil e uma noites


A primeira metáfora é o rio.
As grandes águas. O vívido cristal
Que guarda essas queridas maravilhas
Que foram do Islã e que são tuas
E minhas hoje. O todo-poderoso
Talismã que também é um escravo;
O gênio confinado na vasilha
De cobre pelo selo salomônico;
O juramento de um rei que entrega
Sua rainha de uma noite à justiça
De uma espada, a lua, que está só;
Aquelas mãos que se lavam com cinza;
As viagens de Simbad, esse Odisseu
Urgido pela sede de aventura,
Não castigado por um deus; a lâmpada;
Os símbolos que anunciam a Rodrigo
A conquista da Espanha pelos árabes;
O símio que revela que é um homem,
Num jogo de xadrez; o rei leproso;
As altas caravanas; a montanha
De pedra-ímã que espedaça a nave;
sheik e a gazela; um orbe fluido
De formas que variam como nuvens,
Sujeitas ao arbítrio do Destino
Ou do Acaso, que são a mesma coisa;
O mendigo que pode ser um anjo
E a caverna que se chama Sésamo.
A segunda metáfora é a trama
De um tapete, que oferece ao olhar
Um caos de várias cores e de linhas
Irresponsáveis, acaso e vertigem,
Mas uma ordem secreta o governa.
Como aquele outro sonho, o Universo,
Esse Livro das Noites está feito
De cifras tutelares e de hábitos:
Os sete irmãos e as sete viagens,
O trio de cádis e os três desejos
De quem avistou essa Noite das Noites,
A negra cabeleira enamorada
Em que o amante vê três noites juntas,
Os três vizires e os três castigos,
E sobre as outras todas a primeira
E última cifra do Senhor; o Um.
A terceira metáfora é um sonho.
Agarenos e persas o sonharam
Nos portais do velado Oriente
Ou em vergéis que agora são do pó
E seguirão os homens a sonhá-lo
Até o último fim de sua jornada.
Como no paradoxo do eleata,
O sonho se desfaz em outro sonho
E este, em outro e em outros, que entretecem
Ociosos um ocioso labirinto.
No livro está o Livro. Sem sabê-lo,
Conta a rainha ao rei a já esquecida
História deles dois. Arrebatados
Pelo tumulto de antigas magias,
Desconhecem quem são. Seguem sonhando.
A quarta é a metáfora de um mapa
Daquela região indefinida, o Tempo,
De quanto medem as graduais sombras
E o perpétuo desgaste de alguns mármores
E os passos de diversas gerações.
Tudo. A voz e o eco, o que miram
As duas opostas faces do Bifronte,
Mundos de prata e mundos de ouro rubro
E a vigília demorada dos astros.
Dizem os árabes que ninguém consegue
Ler até o fim esse Livro das Noites.
As Noites são o Tempo, o que não dorme.
Segue a leitura enquanto morre o dia
E Xerazade te contará tua história.

do livro poesia jorge luis borges, companhia das letras são paulo, 2009 pg 252




Fotografia Leonora Fink

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Jorge Luis Borges - O Apaixonado

O Apaixonado


Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.

Jorge Luis Borges, in "História da Noite" 

Tradução de Fernando Pinto do Amaral 


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pequena parte do Prefácio do livro de Michel Foucault, por Jorge Luis Borges- As Palavras e as Coisas

Parte do Prefácio do livro de Michel Foucault - As Palavras e as Coisas - por Jorge Luis Borges
"Este livro nasceu de um texto de Jorge Luís Borges. Do riso que sacode, à sua leitura, todas as familiaridades do pensamento - do nosso; do que tem a nossa idade e a nossa geografia -, abalando todas as superfícies ordenadas e todos os planos que tornam sensata para nós a pululação dos seres, fazendo vacilar e inquietando por longo tempo a nossa prática milenária do Mesmo e do Outro. Este texto cita "uma certa enciclopédia chinesa" onde vem escrito que "os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) et caetera, m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas". No deslumbramento desta taxonomia, o que alcançamos imediatamente, o que, por meio do apólogo, nos é indicado como o encanto exótico de um outro pensamento é o limite do nosso: a pura impossibilidade de pensar isto."
"Que é, pois, que é impossível de pensar e de que impossibilidade se trata?""